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Paternidade na Adolescência


Antigamente quando se falava em gravidez na adolescência, as preocupações estavam muito voltadas para a questão da maternidade. Hoje, se reconhece que as dificuldades não são vividas somente pelas meninas, mas também pelos meninos, que além de se verem diante das questões específicas da adolescência, se deparam com a paternidade, situação complexa e individual.


Biologicamente falando, o adolescente já produz espermatozóides, portanto tem as condições físicas para ser pai. Contudo, no que diz respeito ao aspecto psicológico o adolescente se encontra mergulhado em si mesmo, na construção de sua identidade, com seus dramas existenciais. Então como ele poderia oferecer suporte emocional, presença paterna a um filho que também necessita se estruturar e, portanto, precisa de cuidado?


Ser pai não é apenas ser uma pessoa do sexo masculino, sobretudo é alguém com um lugar definido na família, principalmente na vida do filho, na construção da sua personalidade, formação da identidade sexual e emocional. Inconscientemente, o pai representa disciplina e precisa exercer o difícil equilíbrio entre permitir e proibir para mostrar determinação quando necessário.

Isso deve acontecer a despeito da idade, morando na mesma casa ou não, o importante é que qualifique o relacionamento. Pai e mãe têm funções emocionais distintas na família. A paternidade é exercida por um homem com a função de lei, proteção, auxílio e representação social: jeito de ser, pensar, sentir, desejar, particularidades biológicas e culturais masculinas.

Significa que pai é tudo o que a mãe não pode ser. Na ausência de um homem que o substitua, o lugar fica vazio. As crianças criadas sem pai, ou crescido junto a um pai psicologicamente ausente ou muito fraco, apresentam transtornos psíquicos, emocionais ou orgânicos. Essa carência de contato com o pai pode ser uma das raízes do sentimento de rejeição no filho, podendo gerar quando adulto, uma busca de substituto paterno.

Está comprovado que a falta de normas e a consequente falta de limites, gera uma imagem ruim do pai, e uma sensação de abandono e solidão na criança. É como se o filho quando adulto, continuasse procurando dentro de si os limites que o pai não soube colocar.

Independente da idade, a paternidade efetiva não é fácil de assumir. O pai precisa resolver suas questões enquanto filho para então se tornar pai e não vir a se confundir com o filho; precisa separar o que é seu ou será eternamente filho e amigo dos seus filhos, abrindo mão de vivenciar sua identidade paterna.

Tal dificuldade não é exclusiva dos adolescentes, nem representa necessariamente uma experiência negativa e fracassada para eles, por mais que venham a enfrentar sofrimento consequente do despreparo e precisem arcar com o ônus de ter transgredido e apressado a ordem natural das coisas.

Apesar de tudo, a paternidade na adolescência não é uma coisa intransponível, nem seu êxito impossível, desde que possam receber apoio, confiança e amor dos familiares e que assim o melhor aconteça.

Andréa de Espíndola – andreapsico@espacodomquixote.com.br

Psicóloga e psicomotricista do Espaço Dom Quixote.

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