RSS

De volta à rotina


As férias acabaram e a tranquilidade e sossego, possíveis neste período, diminuem seu ritmo e dão lugar a uma nova rotina: escola, trabalho, horários apertados, trânsito caótico, prazos vencendo, falta de tempo.

Este cenário é a realidade da maioria das famílias brasileiras, mas nem por isso precisa ser um desastre, uma corrida contra o tempo e a constante sensação de que não vamos dar conta de tudo. Organizar a rotina, envolver a família nesta rotina, distribuir tarefas e planejar o lazer (sim, hoje em dia o lazer precisa ser planejado) são fundamentais para um convívio mais harmonioso, sucesso nas tarefas, saúde mental e física em dia.

Envolvidos nesta correria muitos pais acabam se distanciando dos filhos, deixando as crianças sem orientação e supervisão. O resultado, muitas vezes, é o insucesso escolar, indisciplina e, até, envolvimento com drogas.

Para minimizar estes prejuízos ou evitá-los é importante o estabelecimento de uma rotina familiar que possibilite o envolvimento de todos no cumprimento de tarefas e assim, possibilitar qualidade de vida e tempo. O primeiro passo é organizar a rotina doméstica com horários e tarefas a serem cumpridas por cada membro. Distribuir as tarefas, além de facilitar a vida, proporciona aprendizagem, envolvimento afetivo, responsabilidade e pode ser muito divertido, principalmente para as crianças.

Responsabilizar as crianças e adolescentes por tarefas importantes demonstra confiança, o que ajuda na construção positiva da estima e da organização psíquica. Organizar um quadro dos horários fixos de cada membro da família facilita a organização, ajuda na segurança de cada um e desenvolve responsabilidade no cumprimentos dos mesmos.

As crianças, desde pequenas, devem se envolver na organização da mochila e lancheira. Muitas vezes as crianças não sabem se tem lanche para comer ou trouxeram o livro da biblioteca porque não foram elas a organizar seu material. Pode parecer aos pais um gesto de carinho preparar lancheira e material escolar para a criança, mas não é. A criança acaba por não se responsabilizar pelas demais tarefas como entregar os temas, anotar recados na agenda, levar o lanche na geladeira...

Na escola o/a professor(a) precisa da autonomia da criança nas tarefas simples para poder desenvolver a autonomia e autoria de pensamento e construção da aprendizagem. Crianças que não organizam seu material, não ajudam a escolher seu lanche, não carregam sua mochila para a escola costumam apresentar apatia cognitiva que resulta em dificuldade de compreensão, de resolução de problemas, reprodução mecânica e sem criatividade nas tarefas escolares. Para desenvolver a autonomia de pensamento e a autoria intelectual as crianças devem, desde cedo, assumir responsabilidades e cumprir as tarefas pertinentes ao estudo.

Na organização da rotina deve haver um quadro de tarefas onde cada membro é responsável por atividades como: arrumar o quarto, pôr a mesa, cuidar do animal de estimação, horário de estudo, de TV, de brincar no pátio... Cobrar o cumprimento das tarefas ensina a ter organização e responsabilidade. Na escola o/a professor(a) não vai estender o prazo de entrega de um trabalho porque o/a aluno(a) esqueceu em casa, a impressora ficou sem tinta (essa é básica)... afinal, ele/ela também precisa cumprir prazos de entrega de notas e será referência para a criança quando mostrar fidelidade às normas e combinações feitas em sala de aula.

O descompasso entre família e professores no cumprimento das tarefas escolares provoca , além de mal-estar para o/a aluno(a), desorganização e comprometimento de valores fundamentais na constituição de um sujeito ético e responsável na sociedade. Quando a cobrança da escola for uma norma em casa também facilitará a vida da criança/adolescente porque ele não se confunde e introjeta este valor tornando-o algo natural.

Para muitos pais a maior dificuldade é acompanhar o tema dos filhos. Normalmente esta tarefa fica para ser feita à noite quando a família está reunida e, muitas vezes, todos se encontram cansados. Em função disso este momento pode ser estressante e não de aprendizagem. Crianças pequenas precisam de uma assessoria mais direta dos pais na hora do tema: ler com eles, ver se entenderam o que deve ser feito, reler ao final para ver se foi feito com capricho e dedicação, sugerir melhorias, discutir com eles o conteúdo estudado, saber do contexto da sala de aula.

Jamais os pais devem fazer o tema pelos filhos, ditar as respostas, criticar a tarefa provocando a desconfiança do(a) professor(a) na criança. Se este momento estiver sendo estressante é melhor rever o horário e/ou quem acompanha a criança.

No caso dos adolescentes que podem ser responsáveis por realizar as tarefas sozinhos é importante que os pais se interessem perguntando, olhando cadernos, apostilas, acompanhando pesquisas e trabalhos de grupo. Criar um momento de discussão sobre os conteúdos estudados na escola pode ser muito rico e demonstra carinho e cuidado dos pais, tão importantes nesta fase.

Na correria entre trabalho e escola alguns momentos ficam mais prejudicados como a hora das refeições. Muitas famílias já não conseguem mais manter este hábito saudável em função dos horários de cada membro e das distâncias a serem percorridas para garantir estes encontros. Se não for possível fazer todas as refeições do dia juntos organizem, pelo menos, que uma delas seja em família, com tranquilidade, com uma conversa agradável, sem cobranças ou relatórios do dia. Comer bem garante saúde e bem-estar.

Quando a semana termina ainda ficam algumas tarefas pendentes para o final de semana: além das tarefas escolares, algumas leituras atrasadas, compras para deixar a casa organizada para a próxima semana, tarefas domésticas que não tiveram resolução durante a semana...

Distribuir estas tarefas e organizar momentos de relaxamento, de não fazer nada, de jogar conversa fora, passear, visitar amigos e familiares, conhecer lugares novos são importantes para que a família consiga fortalecer o convívio e a harmonia durante todo o ano.

Se para os pais é importante organizar a agenda com todas as tarefas que lhe são impostas, para os filhos também é importante e estruturante ter sua agenda organizada. Vale a pena gastar um tempo organizando toda esta rotina para garantir momentos de tranquilidade com as pessoas mais importantes: nossa família.


Janete Cristiane Petry - janetepp@espacodomquixote.com.br
Psicopedagoga do Espaço Dom Quixote

Transtorno de Processamento Auditivo e Dificuldades de Aprendizagem


As crianças com queixas de dificuldades esco lares geralmente apresentam pior desempenho em testes de PROCESSAMENTO AUDITIVO em função do atraso na maturação das habilidades auditivas. Tais habilidades são fundamentais para o processo de aprendizagem da leitura e da escrita.

O termo dificuldades de aprendizagem não se refere a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho acadêmico e são problemas que podem alterar as possibilidades da criança de aprender independente de suas condições neurológicas para fazê-lo.

O que é Processamento Auditivo e Transtorno de Processamento Auditivo?

Processamento Auditivo (PA) é um conjunto de habilidades auditivas que o indivíduo necessita para interpretar o que ouve. As habilidades mais comuns são: localização da fonte sonora, fechamento, figura-fundo, integração binaural, discriminação, memória e atenção.

O transtorno do PA acontece quando algum fator afeta de forma contrária o processamento ou interpretação de determinada informação. Qualquer dificuldade na habilidade para ter a atenção, discriminar, reconhecer, lembrar ou compreender informações apresentadas auditivamente pode ser considerado transtorno de PA.

Este transtorno pode estar relacionado a dificuldades de leitura, escrita, linguagem e aprendizagem. Freqüentemente o impacto mais profundo do transtorno do PA acontece nas crianças, visto que esse tipo de dificuldade pode interferir nas habilidades de fala, compreensão, comunicação e leitura; podendo gerar ansiedade, baixa auto-estima e desempenho acadêmico abaixo do esperado. Ainda pode estar correlacioná-lo com outros distúrbios como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

O transtorno de PA pode se apresentar como um problema comportamental, social, emocional, comunicativo ou educacional (de aprendizagem). As manifestações ocorrem de diversas formas, abaixo seguirá uma lista de características relacionadas ao Transtorno de PA.

Características Gerais:

- Dificuldades de aprendizagem de leitura e escrita;

- Fala muito HEIN? ou O QUÊ?;

- Freqüentemente interpreta mal o que lhe é dito;

- Apresenta respostas lentas ou atrasadas para os estímulos de fala;

- Dificuldade pra entender a fala em ambientes ruidosos;

- Tempo de atenção reduzido;

- Distraído;

- Parece ouvir, mas não entende o que a pessoa diz;

- Tem dificuldade pra lembrar o que foi dito;

- Apresenta habilidades de fala e de linguagem prejudicada.

Dificuldades Emocionais:

- Tem dificuldade para interpretar as emoções;
- Baixo limite de tolerância;

- Instabilidade de humor;

- Hiperatividade e hiper-emocionalidade;

- Desorganizado;

- Baixa auto-estima.

Dificuldades Sociais:

- Dificuldades para se relacionar com os colegas;

- Comportamento impulsivo;

- Hiperatividade;

- Dificuldade de se controlar;

- Habilidades sociais gerais ruins;

- Coordenação motora ruim;

- Distúrbios do sono.

A (re)habilitação do indivíduo com transtorno do PA deve ser planejada e realizada por diferentes profissionais (fonoaudiólogo, neurologista e psicopedagogo) baseando-se nas necessidades individuais de cada paciente dependendo da natureza, das manifestações funcionais e do grau do problema. É importante destacar que tanto o transtorno do processamento auditivo como as dificuldades de aprendizagem quando identificados precocemente possibilitam uma intervenção terapêutica mais eficaz e adequada.

Por fim, deve-se ressaltar o papel do fonoaudiólogo como o profissional habilitado para o tratamento das dificuldades acima descritas e para a orientação aos pais e à escola do paciente.


Bruna dos Santos Xavier - brunafono@espacodomquixote.com.br
Fonoaudióloga do Espaço Dom Quixote



Criança e Consumo


Durante o Fórum Social Temático 2012 foi realizada a oficina “CRIANÇA E CONSUMO: OS DONOS DO CARDÁPIO INFANTIL” onde foi elaborada uma carta aberta à sociedade para conscientização sobre este assunto tão pertinente. Abaixo segue a carta na íntegra:

CARTA ABERTA CRIANÇA E CONSUMO

Os participantes da oficina CRIANÇA E CONSUMO: OS DONOS DO CARDÁPIO INFANTIL, realizada no Fórum Social Mundial Temático 2012, por iniciativa do Núcleo Interdisciplinar de Prevenção de Doenças Crônicas na Infância da Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS e do e-grupo Criança e Consumo (criancaeconsumo1@gmail.com), decidiram pela publicação desta carta em alerta à população e às autoridades quanto aos riscos à saúde decorrentes de uma alimentação inadequada, baseada em produtos industrializados que contêm altas taxas de gorduras, sal e açúcar e baixo valor nutricional.

Como conseqüência:

1. o excesso de peso, em 2008-2009, já atingia cerca de metade dos homens e das mulheres adultas. Dados comparativos das décadas de 70 a 90 mostram que, neste período, o excesso de peso de meninos (5 a 9 anos) aumentou 3 vezes e de adolescentes (10 a 19 anos), 6 vezes (IBGE), o que comprova que a obesidade é uma doença evolutiva, que se inicia na infância e se perpetua ao longo da vida;

2. as doenças crônicas associadas à obesidade (hipertensão arterial, diabetes e câncer), antes consideradas doenças de adulto, têm sido diagnosticadas cada vez mais precocemente;

3. estas doenças estão relacionadas às quantidades excessivas de sal (sódio), açúcar e gorduras presentes em refrigerantes, bolachas recheadas, salgadinhos e massas instantâneas, consumidas pelas crianças.

O bombardeio publicitário dirigido ao público infantil, associado à desinformação da população, são os verdadeiros donos do cardápio das crianças.

Conclamamos a população e as autoridades a:

– estabelecer ações conjuntas e continuadas, principalmente das Secretarias de Educação e de Saúde voltadas à educação nutricional e alimentar desde o período pré-natal, com ênfase em creches e pré-escolas;

– enfatizar os benefícios do aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida, da sua continuidade após a introdução da alimentação complementar saudável, assim como dos prejuízos associados ao aleitamento artificial;

– destacar a importância de evitar o acréscimo de açúcar e sal nos alimentos antes dos 2 anos de vida - período vital em que se define o paladar, que acompanhará o ser humano pelo resto de sua vida;

– difundir amplamente para a população, bem como fiscalizar de forma efetiva, onde a alimentação escolar é executada e servida (escolas), o cumprimento das diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE (Lei nº 11.947, de 16/06/2009), que determina a aquisição mínima de 30% de produtos oriundos da agricultura familiar, proíbe a compra de refrigerantes e restringe a aquisição de enlatados, embutidos, doces, alimentos em pó ou desidratados para reconstituição, com quantidade elevada de sódio e de gorduras;

– agregar as universidades públicas na capacitação dos profissionais das áreas de saúde e educação, focada em uma alimentação escolar adequada aos costumes regionais, às condições nutricionais individuais das crianças e às faixas etárias, dos berçários até o final da vida escolar;

– promover, pelo poder público, campanhas de esclarecimento quanto à importância de hábitos alimentares saudáveis na prevenção de doenças crônicas;

– mobilizar os Conselhos Municipais de Educação, de Saúde e de Alimentação Escolar para o engajamento em defesa da alimentação saudável;

– criar uma mobilização nacional pela regulamentação da publicidade dirigida ao público infantil.

CADA UM DE NÓS É RESPONSÁVEL PELA SAÚDE DAS CRIANÇAS. PENSE NISSO!

Porto Alegre, 25 de janeiro de 2012

Daniele Santetti - danielenutri@espacodomquixote.com.br
Nutricionista do Espaço Dom Quixote
Mestranda em Saúde da Criança e do Adolescente – PPGSCA/UFRGS
Participante do e-grupo Criança e Consumo

Paraquedas!


Atividade para brincar com seus filhos nas férias ou para o início das aulas!

Uma brincadeira que utilizamos muito no Espaço Dom Quixote é o “Paraquedas”. Muito comum na Europa e nos Estados Unidos, chamado de “Parachute play”, está começando a se difundir também em algumas escolas no Brasil e entre profissionais como Musicoterapeutas, Educadores Físicos, Terapeutas Ocupacionais, Professores, entre outros.

A brincadeira é fantástica! Estimula os sentidos e pode ser utilizada visando atingir diversos objetivos. Muitas atividades podem ser feitas, como cantar realizando movimentos com o paraquedas; brincar de “chefe manda”, onde cada um vai propondo movimentos diferentes e os outros vão imitando; cantar ou ouvir canções que propõem determinadas ordens, como “Anel de pedra verde”, cujo o texto diz “ora de frente pra frente, ora de trás, pra trás”. Há inclusive cd’s específicos com músicas para o paraquedas. O legal é diversificar as músicas, onde cada um pode comandar uma atividade na duração de uma música ou em determinado período dela.

Algumas músicas folclóricas funcionam bem, o importante é que o ritmo seja bem marcado, para facilitar os movimentos, já que o ritmo impulsiona o movimento. Outras, como as músicas dos anos 60, como “Twist and Shout”, comumente conhecida pela gravação dos “Beatles”, marchas, sambas, enfim, músicas bem agitadas, como música dance ou até um tango podem ser muito eficientes. A música escolhida vai depender da faixa etária e do gosto dos participantes. Músicas mais calmas para terminar podem ser importantes para acalmar o grupo e são as mais recomendadas para pessoas com mais dificuldades de se locomover.

Sincronizando os movimentos com a música se trabalha a atenção, a concentração, os limites e até a capacidade de frustração, além do relacionamento do grupo, onde todos têm que cooperar, pois cada um é responsável pelo movimento de um pedaço do paraquedas que deve estar sincronizado com o restante. Caso contrário, o resultado é o balanço desordenado do paraquedas, o que também não deixa de ser importante em momentos de maior liberdade, de “bagunça” com o paraquedas, depende do que se quer alcançar. Colocar balões ou bolas em cima do paraquedas é algo muito divertido, ninguém pode deixar as bolas ou balões caírem ou todos têm que acertar a bola no buraco do meio, e assim vai se trabalhando o trabalho em equipe.

As crianças gostam muito de sentar no meio do paraquedas cheio de balões enquanto outros ficam do lado de fora balançando o paraquedas, assim os balões ficam flutuando sobre elas ou então uma criança tenta pegar a outra, uma por cima e a outra por baixo.

Além da descontração e do divertimento que a brincadeira provoca, trabalha-se a capacidade de seguir ordens, limites, a coordenação motora, entre outros. As cores também podem ser trabalhadas, como todos pisar na cor que a música trouxer, ou como “elefante colorido”.

As atividades podem ser adaptadas, pode-se fazer em pé, sentado, pode-se ir para baixo do paraquedas, trocar de lugar, uma criança embaixo e outra em cima. Pela internet encontram-se diversos vídeos digitando “parachute play” com diferentes atividades.

Se não encontrarem para vender no Brasil, encontra-se em alguns sites internacionais ou, o mais fácil, é pedir para uma costureira. Tenho um feito em microfibra, o tecido mais próximo do tactel que não encontrei no mercado. O tamanho vai do gosto de cada um, pode ser um pequeno para quatro pessoas ou até gigante para grandes grupos. O legal é escolher as cores e fazer o mais colorido possível, lembrando que na extremidade há uma corda por dentro para auxiliar a dar peso quando jogamos o paraquedas para cima e assim ele cai bem devagar.

Enquanto não providenciam um, vale a pena ir brincando com lençol, tecido tnt... e muita música!

Fica a dica para brincar com seus filhos nas férias ou para professores e demais profissionais alcançarem seus objetivos de forma divertida!

Boa diversão!


Luciana Steffen - lucianamt@espacodomquixote.com.br
Musicoterapeuta do Espaço Dom Quixote

A criança Kawasaki ou o filho do Dr. Kawasaki?


Pego emprestado do título de um capitulo do livro “A função do filho” de Esteban Levin para falar sobre a doença, também conhecida como Síndrome de Kawasaki, que recebe essa denominação em homenagem ao primeiro médico que a identificou.

É uma doença rara que acomete 19 a cada 100.000 crianças nos Estados Unidos, frequentemente afeta crianças com menos de 5 anos de idade. Prevalece em crianças com ascendência japonesa e coreana, mas pode afetar todos os grupos étnicos. Causa inflamação nas paredes das artérias de pequeno e médio porte em todo o corpo, incluindo as artérias coronárias, que fornecem sangue ao músculo cardíaco.
Apesar da causa ainda ser desconhecida, não é contagiosa nem hereditária, a criança pode se recuperar em poucos dias se os sintomas forem reconhecidos cedo. Se não tratada pode acometer gravemente o coração. Muitas teorias ligam a doença à bactérias, vírus, reação a medicamentos e até mesmo ser auto-imune, mas até agora nada foi comprovado. Sabe-se claramente os fatores de risco a doença: idade (entre 2 e 5 anos, maior risco), sexo (mais comum em meninos do que meninas), etnia (de origem asiática) e estação do ano (mais comum no inverno e nas primeiras semanas da primavera).

Voltando um pouco ao titulo escolhido para este artigo, ele faz lembrar a citação de Jorge Luis Borges, por trás do nome há o que não se nomeia. Muitas vezes, como adultos, esquecemos de falar com a criança sobre a doença que a está afetando. Mas quando somos perguntados sobre o que aflige nossos filhos os nomeamos com a patologia – inconscientemente. Ajudá-las a entender desde cedo o que se passa é fundamental, pois muitas vezes é necessário visitar profissionais que ajudem a restabelecer seus movimentos, como o Psicomotricista.

Fique atento a esses sintomas:

Na primeira fase (dura duas semanas)
- febre alta e persistente com duração de 5 dias (39ª C);
- vermelhidão severa nos olhos;
- conjutivite bilateral sem pus;
- erupção na barriga, peito e genitais;
- lábios inchados, vermelhos e secos;
- língua inchada com saburra branca e grandes inchaços vermelhos;
- dor de garganta, irritação;
- respirar pode ser difícil;
- palmas das mãos inchadas e as solas dos pés com uma cor vermelho-púrpura;
- inchaço dos gânglios linfáticos.

Na segunda fase
- pele das mãos e dos pés podem começar a ficar tipo “casca” em pedaços grandes;
- dor nas articulações;
- diarréia;
- vômito ou dor abdominal.

Na terceira fase
- febre persiste;
- vermelhidão em ambos os olhos;
- língua muito vermelha, inchada;
- vermelhidão das palmas das mãos ou solas;
- descamação da pele;
- erupção;
- linfonodos inchados.

Consulte ou entre em contato com o médico. Se tratada precocemente após o inicio os danos serão menores e a recuperação é satisfatória, podendo haver apenas pequenas seqüelas como hemiparesia leve. Se não tratada pode haver complicações sérias, sendo a principal causa de cardiopatia adquirida em crianças (miocardite, insuficiência mitral, arritmia, vasculite).

Fica o alerta aos pais! É uma doença que chega devagar e pode causar sérios comprometimentos aos pequenos.


Priscila Straatmann Morél - priscilato@espacodomquixote.com.br
Terapeuta Ocupacional e Psicomotricista do Espaço Dom Quixote

Onde vivem os monstros?


Onde vivem os monstros? É esta a primeira interrogação que o filme de Spike Jonze (Where the wild things are, EUA, 2009) nos faz quando decidimos por assisti-lo. Mas, de que monstros estão falando? Do real, do imaginário, do interno ou do externo?

Aos poucos encontramos com Max, personagem principal do filme, a angústia que todos nós adultos sentimos em algum momento de nossa infância e por onde todas nossas crianças também passarão. Deparamo-nos com monstros que nós mesmos criamos em nosso interior: medo, raiva, angústia, solidão, carência e, principalmente, o crescimento, que traz junto as responsabilidades e conseqüências de nossas ações.

Aos poucos vamos reconhecendo em cada monstro um pouco de nós mesmos. Recordamo-nos de nossas angústias infantis e de como elas pareciam grandes, feias e monstruosas, e de como lutamos arduamente com e contra cada uma delas. Assim como a frieza de termos conseqüências para nossas ações e as responsabilidades que elas repercutem.

Mas, ao crescer, acabamos esquecendo ou fingimos esquecer que estas angústias apenas se modificam ou tomam outras proporções, mas que continuam nos acompanhando. Passamos a aprender a conviver com nossos monstros e assim “seguir adiante”.

Ao acompanhar a trajetória de Max acordamos e revivemos nossos monstros e nos damos conta de que todos nós, em alguma etapa de nosso crescimento também sentimos medo e que de alguma forma tivemos alguém para acalentar esses questionamentos, ou como no caso de Max, encontramos sozinhos uma maneira de encarar esses monstros.

A nós adultos cabe a árdua tarefa de acolher os monstros de nossos pequenos e mostrar não somente a eles, mas a nós mesmos, que os monstros interiores fazem parte de nossa constituição. E que será a partir de todos estes sentimentos que poderemos reconhecê-los e torná-los parte de nós, descobrindo o quanto nos representam.

Com um roteiro simples, figuras grandiosas e silêncios expressivos nos identificamos com um filme duro, sincero e um tanto sensível. Talvez sincero até demais, mas ainda assim muito verdadeiro.

Onde vivem os monstros mostra aos adultos o lado difícil de crescer e todas as angústias que essa fase pode oferecer. Mas que possibilita ao olharmos com mais calma e proximidade que os monstros não são tão feios, grandes ou perigosos assim. São apenas estranhos buscando espaço, pedindo ajuda.

Portanto, que possamos dar lugar ao meu, ao teu, ao nosso estranho. Que possamos lembrar nossa infância e nossos medos e desta forma não desvalorizar os monstros daqueles que hoje passam por aquilo que também passamos. Que pelo desconhecido temem o crescer e todas as suas responsabilidades e conseqüências. A nós, como bons monstros, cabe a tarefa de acolher e cuidar de nossos Max da melhor maneira possível, sem proibi-los de descobrir seus próprios monstros.

E você, sabe onde vivem os monstros?


Caroline Ciceri
Psicóloga do Espaço Dom Quixote

Dificuldades de fala


As dificuldades de fala, segundo o fonoaudiólogo Jaime Zorzi, podem ser caracterizadas como toda e qualquer alteração que dificulte ou impeça a produção dos sons que compõem as palavras, ou seja, os fonemas. As alterações mais graves dizem respeito a atrasos no desenvolvimento, as crianças começam a falar muito tarde. Problemas mais simples e mais freqüentemente encontrados referem-se a trocas, omissões e distorções de sons (uma imprecisão na pronúncia do som).

É muito comum encontrarmos crianças em idade pré-escolar que tenham alguma dificuldade em determinado som. Em alguns casos, as trocas são bastante evidentes e acabam por influenciar muito na compreensão do que as crianças querem dizer e fica evidente que elas precisam de um acompanhamento fonoaudiólogo para superar esta fase.

Mas há outros casos em que a alteração ocorre em apenas um ou dois fonemas e acaba ficando fácil de entender a fala destas crianças. É neste caso que uma alteração leve pode gerar grandes incômodos no desenvolvimento da criança. Isto porque, como a fala não fica totalmente ininteligível, muitos pais acabam por adiar a procura de um fonoaudiólogo. Acham que é "bonitinha" a fala do filho, acham graça do que ele diz, ou insistem que ele ainda é muito novo. A família em muitos casos acaba falando da mesma maneira que a criança e, muitas vezes sem perceber, estimulam para que este padrão de fala se torne mais incorreto. Por isso é importante que nunca se repita as palavras incorretas que uma criança diz, pois ela aprende através dos modelos dos adultos e se este modelo está incorreto, a fala da criança só pode ficar incorreta também.

Outro problema no adiamento da procura do fonoaudiólogo é que, com o passar dos anos, a criança passa a ser motivo de brincadeiras na escola, recebe apelidos e começa a se sentir mal por ser taxada como aquele que fala errado, é o bem conhecido Cebolinha.

Vale a pena destacar que até os 5 anos de idade a criança deve estar falando tudo corretamente. Algumas alterações já podem ser tratadas antes desta idade, por isso a avaliação fonoaudióloga é essencial para determinar se as alterações de fala são as esperadas para a idade ou não e assim auxiliar a criança da melhor maneira possível e o quanto antes seja possível para evitar danos maiores.


Fernanda Helena Kley - fernandafono@espacodomquixote.com.br
Fonoaudióloga do Espaço Dom Quixote
Pòs-Graduanda em Neuropsicologia (UFRGS)