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Onde vivem os monstros?


Onde vivem os monstros? É esta a primeira interrogação que o filme de Spike Jonze (Where the wild things are, EUA, 2009) nos faz quando decidimos por assisti-lo. Mas, de que monstros estão falando? Do real, do imaginário, do interno ou do externo?

Aos poucos encontramos com Max, personagem principal do filme, a angústia que todos nós adultos sentimos em algum momento de nossa infância e por onde todas nossas crianças também passarão. Deparamo-nos com monstros que nós mesmos criamos em nosso interior: medo, raiva, angústia, solidão, carência e, principalmente, o crescimento, que traz junto as responsabilidades e conseqüências de nossas ações.

Aos poucos vamos reconhecendo em cada monstro um pouco de nós mesmos. Recordamo-nos de nossas angústias infantis e de como elas pareciam grandes, feias e monstruosas, e de como lutamos arduamente com e contra cada uma delas. Assim como a frieza de termos conseqüências para nossas ações e as responsabilidades que elas repercutem.

Mas, ao crescer, acabamos esquecendo ou fingimos esquecer que estas angústias apenas se modificam ou tomam outras proporções, mas que continuam nos acompanhando. Passamos a aprender a conviver com nossos monstros e assim “seguir adiante”.

Ao acompanhar a trajetória de Max acordamos e revivemos nossos monstros e nos damos conta de que todos nós, em alguma etapa de nosso crescimento também sentimos medo e que de alguma forma tivemos alguém para acalentar esses questionamentos, ou como no caso de Max, encontramos sozinhos uma maneira de encarar esses monstros.

A nós adultos cabe a árdua tarefa de acolher os monstros de nossos pequenos e mostrar não somente a eles, mas a nós mesmos, que os monstros interiores fazem parte de nossa constituição. E que será a partir de todos estes sentimentos que poderemos reconhecê-los e torná-los parte de nós, descobrindo o quanto nos representam.

Com um roteiro simples, figuras grandiosas e silêncios expressivos nos identificamos com um filme duro, sincero e um tanto sensível. Talvez sincero até demais, mas ainda assim muito verdadeiro.

Onde vivem os monstros mostra aos adultos o lado difícil de crescer e todas as angústias que essa fase pode oferecer. Mas que possibilita ao olharmos com mais calma e proximidade que os monstros não são tão feios, grandes ou perigosos assim. São apenas estranhos buscando espaço, pedindo ajuda.

Portanto, que possamos dar lugar ao meu, ao teu, ao nosso estranho. Que possamos lembrar nossa infância e nossos medos e desta forma não desvalorizar os monstros daqueles que hoje passam por aquilo que também passamos. Que pelo desconhecido temem o crescer e todas as suas responsabilidades e conseqüências. A nós, como bons monstros, cabe a tarefa de acolher e cuidar de nossos Max da melhor maneira possível, sem proibi-los de descobrir seus próprios monstros.

E você, sabe onde vivem os monstros?


Caroline Ciceri
Psicóloga do Espaço Dom Quixote

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