O que é o Autismo?
À primeira vista, nada chama a atenção, mas quando começa a falar com um autista, logo percebe que algo está errado. Ele não olha no olho, balança o corpo num movimento repetitivo, apresenta pouca comunicação verbal ou repete insistentemente o que o outro fala, numa ecolalia.
O autismo é um transtorno ao mesmo tempo neurológico, genético e psicológico que afeta principalmente a capacidade de comunicação e interação social. Os pacientes podem nascer com forte predisposição ou adquiri-la durante os 18 primeiros meses de vida, explica a psicóloga do Espaço Dom Quixote, Fabíola Scherer Cortezia. A ciência já encontrou várias alterações genéticas ligadas ao autismo, mas nenhuma delas é determinante, já que em numerosos casos não há registros de alteração genética, aponta a psicóloga Fabíola.
A matriz das primeiras relações entre mãe e bebê não é um dado inato, mas uma construção precocíssima, fundamental no processo de subjetivação. Numa visão psicanalista, quando algo falha nesse contato inicial, instala-se o autismo, condição em que a fusão, a reciprocidade e a comunicação mútua não ocorrem, explica a psicóloga.
Atualmente utiliza-se o termo “transtorno de espectro do autismo” para ressaltar que a patologia varia amplamente em seu grau de seriedade, mas mantém em comum certos sintomas característicos.
As características mais marcantes do autismo são as respostas anormais a estímulos auditivos ou visuais, a fala custa a aparecer, percebe-se a ecolalia, estrutura gramatical imatura, incapacidade de desenvolver contato olho no olho e convívio social conturbado.
Tratamentos mais indicados
O PROGRAMA SON-RISE
O programa Son-rise foi desenvolvido por pais de um autista grave que acreditavam na reabilitação do filho diminuindo os traços graves apresentados, relata a terapeuta ocupacional e psicomotricista do Espaço Dom Quixote Priscila Straatmann Morél. Com o passar dos anos o menino melhorou e o programa ganhou notoriedade e vem sendo aplicado internacionalmente em todos os espectros de autismo e dos transtornos globais do desenvolvimento.
Priscila explica que o programa baseia-se na abordagem relacional, onde a relação entre pessoas é valorizada. As sessões são individuais (um-para-um) realizadas na casa da pessoa e em um quarto especialmente preparado com poucas distrações visuais e auditivas, contendo brinquedos e materiais motivadores que sirvam como instrumento de facilitação para a interação e subseqüente aprendizagem.
O Programa Son-Rise acredita que para o tratamento dar certo é necessário uma profunda compreensão do desenvolvimento da criança ou do adulto com autismo (ou similares) e no estilo de interação, como maneira de se relacionar com uma criança que inspira a participação espontânea em relacionamentos sociais de forma lúdica. Busca-se compreender como se dá as inter-relações, o agir, o comportamento, a comunicação. No Son-Rise os pais, muito valorizados no programa, assim como os facilitadores, aprendem a interagir de forma prazerosa, divertida e entusiasmada com a criança, encorajando então altos níveis de desenvolvimento social, emocional e cognitivo, relata a terapeuta ocupacional.
AMBIENTOTERAPIA
O tratamento que traz resultados surpreendentes no caso de autismo é a ambientoterapia, uma proposta de atendimento transdisciplinar e em grupo. O grupo ocorre em mais de um dia na semana e é coordenado por psicóloga, psicopedagoga, terapeuta ocupacional, psicomotricista, fonoaudióloga e musicoterapeuta, sempre propondo atividades que imitam o cotidiano das crianças e adolescentes e estimulam a comunicação e a interação social, explica a terapeuta ocupacional Priscila Straatmann Morél.
É surpreendente como os pacientes autistas se beneficiam da ambientoterapia, pois percebemos progressos significativos, uma vez que o tratamento se propõe a estimular exatamente aquilo que é mais difícil no autismo – a interação social, a troca, a comunicação verbal e a imaginação – aponta a psicóloga do Espaço Dom Quixote. Este tratamento com múltiplos profissionais é designado de ambientoterapia porque imita o ambiente em que a criança vive e proporciona um acompanhamento de atividades do cotidiano, mas dirigida por profissionais especializados. As atividades são dirigidas e há uma rotina como a hora do lanche, brincadeiras livres, desenhos, música, filmes, jogos pedagógicos. O ideal é que a criança freqüente a escola regular em um turno e participe da ambientoterapia no outro turno (duas vezes na semana, por exemplo), pois assim interage com crianças e adolescentes da rede regular e também recebe a estimulação apropriada para as suas dificuldades específicas, alerta Fabíola Scherer Cortezia.
Para a fonoaudióloga Fernanda Helena Kley, a ambientoterapia tem apresentado bons resultados nos casos de autismo, pois o foco do trabalho é a interação social, as crianças podem juntas experimentar tentativas de comunicação. Nestes grupos são criadas situações que motivem as crianças a utilizarem a linguagem entre si, auxiliando para que haja a intenção de se comunicarem e estabelecendo relações sociais importantes para o desenvolvimento da linguagem, explica a fonoaudióloga do Espaço Dom Quixote.
MUSICOTERAPIA
De acordo com a musicoterapeuta do Espaço Dom Quixote, Luciana Steffen, a musicoterapia, ciência da área da saúde que utiliza a música, sons, instrumentos e voz para atingir objetivos terapêuticos, promovendo a saúde e bem-estar do paciente, tem se destacado no tratamento de pessoas com transtornos do espectro autista (TEA), trazendo importantes benefícios nos âmbitos emocional, cognitivo, social e físico.
Luciana explica há um grande interesse e curiosidade dos autistas pela música, e que os mesmos se saem melhores na música do que em outras áreas do comportamento, assim como apresentam maior responsividade a ela do que a outros tipos de estímulos auditivos, como a fala.
Autistas são os que mais se beneficiam do tratamento musicoterapêutico, mostrando melhora nos seus principais sintomas: falta de interação com outras pessoas, prejuízo na comunicação e presença de estereotipias, onde muitas vezes outras terapias não conseguem muitos resultados, alerta a musicoterapeuta Luciana Steffen.
A fala de uma pessoa com transtorno do espectro autista pode ser prejudicada ou até nula. Na Musicoterapia, observa-se que os pacientes passam a cantar palavras, frases ou até uma canção inteira, e responder verbalmente através das técnicas como improvisação, demandas, jogos musicais e da estimulação da fala pelo cantar. Com a possibilidade de outro meio de comunicação que não é a fala, o paciente com TEA se expressa e se comunica de forma menos ameaçadora e mais suportável. Através de técnicas específicas o musicoterapeuta pode provocar ou aumentar na pessoa autista o desejo de se comunicar. O paciente toca um instrumento musical, e este serve como um elo entre paciente e musicoterapeuta, sendo o ponto de contato inicial. Através deste instrumento, o paciente passa a se relacionar com o musicoterapeuta, possibilitando um diálogo musical e um meio de trabalhar a interação social e comunicação, os objetivos mais almejados para pessoas com o autista, salienta a musicoterapeuta do Espaço Dom Quixote. Os comportamentos estereotipados também podem reduzir através do fazer musical, através do ritmo e da presença de instrumentos musicais, explica Luciana.
A CRIANÇA AUTISTA NO ENSINO REGULAR
Em sala de aula, trabalhar com o aluno autista requer muita paciência e sensibilidade por parte do professor e dos colegas, é necessário ter uma rotina bem definida, até mesmo as instabilidades desta rotina devem ser previstas para evitar momentos de desorganização do autista. É sempre necessário preparar a criança para qualquer situação diferente que possa acontecer, se possível com fotos e elementos que estejam diretamente relacionados aos acontecimentos, dá a dica a psicopedagoga do Espaço Dom Quixote, Clarissa Paz de Menezes.
Segundo a psicopedagoga, estudos vem mostrando que alguns autistas podem ter talentos singulares, altas habilidades em diferentes áreas, como a matemática, desenho, engenharia entre outros, estes são chamados savants, e apenas 10% dos autistas possuem estes talentos.
A escola que recebe e promove a inclusão de alunos autistas precisa, além de capacitar professores, reestruturar o currículo e a avaliação deste aluno para atender suas possibilidades e desenvolver uma avaliação mais integradora. O aluno autista é capaz de aprender e desenvolver-se, acompanhando a turma, desde que tenha um atendimento de profissionais que interajam com a escola, afirma a psicopedagoga do Espaço, Janete C. Petry.
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