A compulsão alimentar (ou binge eating, do inglês) caracteriza-se por um consumo alimentar bem maior do que o normal para um indivíduo com as mesmas características (mesma idade, altura, nível de atividade física, etc), em um curto período de tempo, com sensação de descontrole. Essa ingestão exagerada costuma vir seguida de arrependimento.
Na compulsão alimentar, ao contrário da bulimia, não ocorrem mecanismos compensatórios, ou seja, a pessoa ingere grande quantidade de comida e não tenta “compensar” essa ingestão com vômitos, dietas restritivas ou atividade física.
Alguns consideram a compulsão alimentar um transtorno ou doença. Outros a vêem como um sintoma associado a algum transtorno alimentar ou a patologias emocionais.
Muitas vezes é difícil para os pais perceberem precocemente esta condição, pois uma vez que as crianças estão se alimentando, não são motivo de preocupação. O problema em geral só é reconhecido quando o pediatra, o nutricionista, familiares ou os próprios pais percebem que a criança está muito acima do peso esperado para sua altura e idade.
Não há estudos sobre o início e prevalência deste problema em crianças e poucas pesquisas foram realizadas com adolescentes.
Como a obesidade costuma estar associada aos repetidos episódios de compulsão, diversos problemas de saúde podem aparecer: dificuldade nos movimentos, cansaço fácil, baixa agilidade e adesão aos esportes, exclusão e “piadas” por parte dos colegas de turma, isolamento social, depressão, pressão alta, elevação nos níveis de colesterol e glicemia (“açúcar no sangue”), apneia do sono, problemas gastrointestinais, entre outros, ocasionados pelo excesso de peso e inadequado consumo alimentar.
Algumas das causas que podem levar à compulsão alimentar são: predisposição genética, disfunção biológica no metabolismo das aminas (serotonina, noradrenalina e dopamina), traços de personalidade (deixam a pessoa mais ou menos vulnerável ao desenvolvimento do transtorno), baixa auto-estima, pressão social para ser magro e há indícios de relação entre o transtorno e história de abuso sexual. Crianças cujos pais se utilizam do alimento como forma de recompensa ou para reconfortar os filhos, ou cujos pais criticam constantemente a forma física e o corpo de seus filhos, são mais predispostas a desenvolver o transtorno.
Para que seja feito o diagnóstico de compulsão alimentar é necessário o exame físico, testes laboratoriais, exame psicológico, dentre outros específicos (caso haja sintomas ou patologias associadas). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais (DSM IV) estabelece critérios que auxiliam no diagnóstico.
Uma vez diagnosticado o transtorno, os objetivos são: reduzir os episódios de compulsão, identificar e trabalhar os aspectos emocionais que tenham desencadeado o problema, reduzir peso (se necessário), estabelecer um plano de alimentação saudável e atividade física. Medicamentos poderão ser necessários ao longo do tratamento (após avaliação médica e prescrição médica).
É muito importante a atuação de equipe transdisciplinar no processo de recuperação da criança ou do jovem com binge eating. Somente dessa forma, os diversos aspectos envolvidos na concepção e desenvolvimento do problema poderão ser trabalhados a fundo e de forma efetiva.
A Nutrição trabalha com a criança, ensinando-a como o corpo funciona e como ele é afetado pelo transtorno alimentar. É preciso trabalhar com cuidado as idéias transmitidas pela mídia (de que o corpo bonito e saudável é o “corpo magro”), proporcionar ao paciente a certeza de que ele não precisará se privar de um alimento “para sempre” (como muitos costumam pensar), mas que todos os alimentos podem ser consumidos em uma dieta equilibrada, nas quantidades e nos momentos adequados.
Aos pais!! Fiquem atentos e procurem ajuda se observarem, em seus filhos/suas filhas: consumo alimentar exagerado relacionado à ansiedade; obesidade na fase inicial da infância; envolvimento precoce em programas de dietas; preocupação excessiva com as calorias dos alimentos; demasiada preocupação com a imagem corporal e baixa auto-estima.
O envolvimento da família é fundamental e por isso está incluído no plano de tratamento dos transtornos alimentares de crianças e adolescentes, já que os pais precisam ser informados e auxiliados no manejo deste tão grave e complexo problema.
Débora Kilpp – deboranutri@espacodomquixote.com.br
Nutricionista do Espaço Dom Quixote
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