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Os filhos precisam de um pai? Ou uma mãe lhes basta?



Percebo muitos pais hoje mais participativos no lar. Vemos homens fazendo cursos de casal grávido com interesse em aprender como cuidar de um bebê e auxiliar a esposa, vemos pais indo à reunião escolar de seus filhos, levando-os para as atividades físicas, estudando com eles... Isso cativa as mulheres, mas também assusta. Para algumas mães, é difícil deixar esse pai entrar nessa relação dela com seu filho. 

Penso que a mulher, que já obteve tantas conquistas, precisa refletir que o lugar do Pai é dele por direito e dever. As mudanças sobre o lugar da mulher na sociedade atual e a necessidade de se mostrar independente e autossuficiente trouxeram alguns avanços, mas também alguns problemas na criação de filhos. Vemos mulheres com a crença de que se tiverem um filho por produção independente poderão suprir a criança sendo mãe e pai. Outras vezes, a mulher não dando passagem ao homem para executar sua função de pai, acaba por promover uma referência para a criança de um pai invisível, incompetente e muitas vezes dispensável. 

A imagem do pai é imprescindível para o desenvolvimento psicológico dos filhos. É função paterna apresentar o filho ao mundo. A mãe acalma, acaricia, protege... O pai encoraja, permite ao filho tomar iniciativas e aprender a distinguir entre o certo e o errado e entender as consequências de uma ou outra escolha. 

O pai precisa conhecer o seu filho para perceber até onde ele é capaz de ir e então encorajá-lo. O pai precisa dizer não quando o filho quer dormir na sua cama com a mamãe e ele ou com a mamãe e sem ele. O pai precisa dizer o não que a mãe, muitas vezes, não conseguirá sustentar sozinha. 

A função paterna (que pode ser desempenhada pelo pai ou por alguém outro do sistema familiar, como tio ou avô) é de grande importância na vida de uma criança, pois é o pai que representa a lei para o filho, através da autoridade. É a partir disso que a criança cresce, amadurece, aprende regras e limites. Quando essa função é desempenhada, ensinamos à criança que ela não será sempre a “sua majestade o bebê” que ela tanto deseja, que ela não é a única coisa que sua mãe tem na vida e que a mãe não precisa, nem deve, estar 24 horas disponível para essa criança. É através da entrada do pai nessa relação que a criança aprende, com muito carinho, que não se ganha sempre, que não se tem sempre tudo o que quer, na hora que quer. 

Há na atualidade uma crise da função paterna! Ou o pai não está presente, ou não se faz presente. Ou o pai nem visita seu filho após uma separação ou ele está ali, mas está sem força, sem lei, sem coragem de entrar nessa díade mãe-filho. Os pais, de modo geral, estão cuidando mais dos filhos, trocando fraldas, brincando, jogando com seus filhos, mas estão confusos e se tornam amigos e não mais pais, ou se tornam mais uma mãe nessa relação. O pai não é a versão masculina da mãe, ele é o PAI. Precisa dispor de tempo para conhecer e relacionar com esse filho e isto pode ser feito através de brincadeiras, leitura, conversas, rolar no chão, executar tarefas diárias, mas precisa dizer não, precisa ser autoridade, sem precisar ser autoritário.

Pais, preciso dizer o quanto a presença efetiva de vocês é fundamental no desenvolvimento dos filhos e que, mesmo com mulheres cada vez mais dinâmicas, ativas e esclarecidas, nós, do sexo feminino, embora às vezes queiramos ser, não somos autossuficientes e precisamos, e muito, de vocês como pais de nossos filhos! Afinal, para que possamos efetivamente sermos mães, precisamos alguém que seja pai, ou tudo ficará muito confuso e talvez não consigamos fazer nada direito. 

Aos pais, desejo que sejam sempre super pais, não do tipo inatingíveis, inabaláveis, mas super conscientes da importância da função paterna na construção de identidade de seus filhos! 


Fabíola Scherer Cortezia – fabiola@espacodomquixote.com.br 
Psicóloga do Espaço Dom Quixote
Especialista em Infância e Adolescência

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