Quem nunca se deparou com a pergunta acima feita por uma criança e ficou sem respostas? Muitos de nós temos dificuldades em responder a esta e a outras perguntas sobre o tema, principalmente se quem questiona for uma criança.
Fugir da pergunta ou dar respostas fantasiosas pode criar confusão e compreensão errada do assunto. Afinal, a pergunta parece simples como todas as perguntas de crianças. A nossa reação diante dela é que se enche de medos, dúvidas e outros sentimentos que perturbam o nosso discernimento sobre o assunto.
Responder para uma criança que é da vontade de Deus, por exemplo, pode representar que Deus é alguém ruim e que está provocando esta dor na criança e na família. Se a família ensina valores cristãos aos filhos, esta resposta pode provocar medo e raiva de Deus, sem um real entendimento da situação. Afinal, as pessoas podem morrer em decorrência de uma doença, em um acidente, por causa da violência urbana, etc e a criança que acredita em Deus precisa saber que esses acontecimentos não são provocados por Deus. Ela confia neste Deus que a família apresentou como amigo, que olha por nós. Se a criança perguntar por que Deus permitiu que a pessoa querida morresse, podemos explicar sobre a finitude da vida, sobre a violência com a qual precisamos tomar cuidado e sobre precauções com a segurança. Tudo isso sem alarmar a criança nem criar-lhe medos desnecessários.
Se observarmos as crianças, perceberemos que elas enfrentam os problemas com mais facilidade que os adultos. Quando brigam com um coleguinha na escola, logo fazem as pazes e voltam a brincar. Não significa que esqueceram o problema, mas preferem brincar a sofrer.
Em cada faixa etária há um entendimento diferente para a morte, e precisamos respeitar esta compreensão para não explicar mais do que a criança consegue entender ou realmente quer saber.
Até 3 anos de idade, a criança é extremamente dependente dos adultos que cuidam dela, e a morte representa perda e abandono. Os pais precisam ajudar a criança a sentir-se confiante e segura, não aumentando a dependência deles para que não se sinta assustada nos momentos em que estiver sozinha ou até mesmo quando for para a escola.
Dos 3 aos 5 anos, as crianças começam a perceber as consequências da morte, mas ainda têm dificuldade em entender que ela é real e irreversível. Muitas vezes acham que a pessoa está dormindo e que logo vai acordar. Além de permitir que a criança chore, tenha raiva, demonstre sua incompreensão, é importante deixar claro para ela que a pessoa querida não voltará. As crianças que acreditam que a pessoa está dormindo podem ficar com medo de dormir, acreditando que também não irão acordar.
Dos 5 aos 9 anos, as crianças começam a entender a irreversibilidade da morte: ficam com medo da morte dos pais, acham que uma pessoa que vai para o hospital vai morrer e podem ficar com medo de viajar quando acompanham o noticiário falando sobre a morte em acidentes de trânsito, por exemplo. Começam, assim, a entender a certeza da morte.
Falar para as crianças que a pessoa virou uma estrela, que está morando no céu, pode acalmá-las e ajudá-las a diminuir a saudade e a tristeza.
Normalmente, a criança tem sua primeira experiência com a morte quando seu animal de estimação morre. Para ela, a tristeza pela perda do animal é a mesma que pela perda de uma pessoa querida. É importante compreender este sentimento e não menosprezá-lo, dizendo que é só um bichinho ou imediatamente substituindo o animal morto por outro. Muitas vezes, as crianças querem enterrar o animal e fazer uma cruz, acreditando que ele irá para o céu dos bichinhos. Podemos participar deste ritual com a seriedade devida para ajudar a criança a superar este momento.
Muitos pais têm dúvidas quanto à participação da criança em um velório. Acredito que é importante deixar a criança decidir se quer participar em algum momento para se despedir da pessoa querida, sem forçar ou ignorar este apelo. Deve-se explicar que a pessoa está deitada ali no caixão para que os amigos e familiares possam se despedir e demonstrar o quanto gostavam dela, e que depois ficarão na nossa lembrança os momentos em que a pessoa estava conosco, brincando, rindo, contando alguma história.
A criança deve estabelecer os seus limites neste momento, sendo aconselhável evitar que permaneça muito tempo no velório ou que beije a pessoa, por questões de saúde.
Muitas vezes, falar da morte para as crianças é mais difícil para os adultos do que para elas próprias, pois crianças buscam o entendimento simples do fato.
Outro dia, pesquisando com um grupo de crianças sobre a vida dos homens e mulheres das cavernas, vimos imagens de um enterro e começamos a conversar sobre o assunto. As perguntas giravam em torno do ritual do enterro, da importância para os familiares e amigos de homenagear aquela pessoa e, no caso das imagens, da forma como tudo acontecia há tantos anos. Acharam muito estranho as pessoas serem enterradas com seus pertences. No dia seguinte, uma criança trouxe alguns vagalumes num pote para mostrar aos colegas e, durante as atividades, percebeu que um deles havia morrido. Resolveram enterrá-lo no pátio. De longe fiquei observando um grupo de crianças escolhendo um lugar e fazendo o buraquinho para enterrar o inseto. Não esqueceram de colocar flores. Depois de um tempo resolveram desenterrá-lo (talvez para confirmar que estaria lá) e não o acharam. Uma das meninas me procurou e disse que o vagalume não estava mais enterrado, que Jesus o tinha levado para o céu inteirinho, com corpinho e espírito.
Ouvir as crianças e pensar com elas sobre um tema tão doloroso pode amenizar a dor e o sofrimento, além de reduzir expectativas e medos.
Janete Cristiane Petry - janetepp@espacodomquixote.com.br
Psicopedagoga do Espaço Dom Quixote
Fugir da pergunta ou dar respostas fantasiosas pode criar confusão e compreensão errada do assunto. Afinal, a pergunta parece simples como todas as perguntas de crianças. A nossa reação diante dela é que se enche de medos, dúvidas e outros sentimentos que perturbam o nosso discernimento sobre o assunto.
Responder para uma criança que é da vontade de Deus, por exemplo, pode representar que Deus é alguém ruim e que está provocando esta dor na criança e na família. Se a família ensina valores cristãos aos filhos, esta resposta pode provocar medo e raiva de Deus, sem um real entendimento da situação. Afinal, as pessoas podem morrer em decorrência de uma doença, em um acidente, por causa da violência urbana, etc e a criança que acredita em Deus precisa saber que esses acontecimentos não são provocados por Deus. Ela confia neste Deus que a família apresentou como amigo, que olha por nós. Se a criança perguntar por que Deus permitiu que a pessoa querida morresse, podemos explicar sobre a finitude da vida, sobre a violência com a qual precisamos tomar cuidado e sobre precauções com a segurança. Tudo isso sem alarmar a criança nem criar-lhe medos desnecessários.
Se observarmos as crianças, perceberemos que elas enfrentam os problemas com mais facilidade que os adultos. Quando brigam com um coleguinha na escola, logo fazem as pazes e voltam a brincar. Não significa que esqueceram o problema, mas preferem brincar a sofrer.
Em cada faixa etária há um entendimento diferente para a morte, e precisamos respeitar esta compreensão para não explicar mais do que a criança consegue entender ou realmente quer saber.
Até 3 anos de idade, a criança é extremamente dependente dos adultos que cuidam dela, e a morte representa perda e abandono. Os pais precisam ajudar a criança a sentir-se confiante e segura, não aumentando a dependência deles para que não se sinta assustada nos momentos em que estiver sozinha ou até mesmo quando for para a escola.
Dos 3 aos 5 anos, as crianças começam a perceber as consequências da morte, mas ainda têm dificuldade em entender que ela é real e irreversível. Muitas vezes acham que a pessoa está dormindo e que logo vai acordar. Além de permitir que a criança chore, tenha raiva, demonstre sua incompreensão, é importante deixar claro para ela que a pessoa querida não voltará. As crianças que acreditam que a pessoa está dormindo podem ficar com medo de dormir, acreditando que também não irão acordar.
Dos 5 aos 9 anos, as crianças começam a entender a irreversibilidade da morte: ficam com medo da morte dos pais, acham que uma pessoa que vai para o hospital vai morrer e podem ficar com medo de viajar quando acompanham o noticiário falando sobre a morte em acidentes de trânsito, por exemplo. Começam, assim, a entender a certeza da morte.
Falar para as crianças que a pessoa virou uma estrela, que está morando no céu, pode acalmá-las e ajudá-las a diminuir a saudade e a tristeza.
Normalmente, a criança tem sua primeira experiência com a morte quando seu animal de estimação morre. Para ela, a tristeza pela perda do animal é a mesma que pela perda de uma pessoa querida. É importante compreender este sentimento e não menosprezá-lo, dizendo que é só um bichinho ou imediatamente substituindo o animal morto por outro. Muitas vezes, as crianças querem enterrar o animal e fazer uma cruz, acreditando que ele irá para o céu dos bichinhos. Podemos participar deste ritual com a seriedade devida para ajudar a criança a superar este momento.
Muitos pais têm dúvidas quanto à participação da criança em um velório. Acredito que é importante deixar a criança decidir se quer participar em algum momento para se despedir da pessoa querida, sem forçar ou ignorar este apelo. Deve-se explicar que a pessoa está deitada ali no caixão para que os amigos e familiares possam se despedir e demonstrar o quanto gostavam dela, e que depois ficarão na nossa lembrança os momentos em que a pessoa estava conosco, brincando, rindo, contando alguma história.
A criança deve estabelecer os seus limites neste momento, sendo aconselhável evitar que permaneça muito tempo no velório ou que beije a pessoa, por questões de saúde.
Muitas vezes, falar da morte para as crianças é mais difícil para os adultos do que para elas próprias, pois crianças buscam o entendimento simples do fato.
Outro dia, pesquisando com um grupo de crianças sobre a vida dos homens e mulheres das cavernas, vimos imagens de um enterro e começamos a conversar sobre o assunto. As perguntas giravam em torno do ritual do enterro, da importância para os familiares e amigos de homenagear aquela pessoa e, no caso das imagens, da forma como tudo acontecia há tantos anos. Acharam muito estranho as pessoas serem enterradas com seus pertences. No dia seguinte, uma criança trouxe alguns vagalumes num pote para mostrar aos colegas e, durante as atividades, percebeu que um deles havia morrido. Resolveram enterrá-lo no pátio. De longe fiquei observando um grupo de crianças escolhendo um lugar e fazendo o buraquinho para enterrar o inseto. Não esqueceram de colocar flores. Depois de um tempo resolveram desenterrá-lo (talvez para confirmar que estaria lá) e não o acharam. Uma das meninas me procurou e disse que o vagalume não estava mais enterrado, que Jesus o tinha levado para o céu inteirinho, com corpinho e espírito.
Ouvir as crianças e pensar com elas sobre um tema tão doloroso pode amenizar a dor e o sofrimento, além de reduzir expectativas e medos.
Janete Cristiane Petry - janetepp@espacodomquixote.com.br
Psicopedagoga do Espaço Dom Quixote
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