Se eu perguntar, tenho certeza que você vai lembrar de alguma história que ouvia ou lia quando era criança. Cada um de nós, a sua maneira, lembra de alguma história que foi lida / contada na infância e até hoje guarda muitos detalhes.
Certamente em algum momento de sua vida você teve interesse por livros, leitura e figuras. Alguns de nós mantivemos o hábito, outros não.
O que sabemos é que a leitura, além de fundamental para o desenvolvimento intelectual das crianças, é também um aliado simples e gostoso de praticar também em casa através da contação de histórias.
Mas de que contação estamos falando? Daquelas que a avó fazia, ou o pai antes de dormir, ou quando ficávamos com medo e a mãe contava até pegarmos no sono. É só vasculhar na memória, certamente encontraremos um momento desses no passado.
Já se sabe o poder da fascinação que a contação de histórias produz nas crianças. Mas, além desse encantamento pelo maravilhoso ou conto de fadas, as histórias contribuem para o simbolismo e “resolução” dos conflitos que são comuns a todos. Falamos nesse caso da difícil tarefa de crescer e amadurecer no desenvolvimento humano. Nessa fase de diferenciação entre real e fantasia, razão e imaginação, os contos permitem que as crianças transportem para a realidade aquilo que é contado, reformulando a partir da sua escuta a melhor forma de utilizar os ensinamentos / palavras das histórias. Permite também às crianças imaginar-se em outra carcaça, outro tempo. Possibilita o ir e vir saudável, fundamental para o desenvolvimento, onde as crianças conseguem imaginar-se dentro dos contos e ao mesmo tempo reconhecê-los apenas como um mundo fantasioso além da sua própria realidade, ou até mesmo como um escape da realidade que nem sempre é tão divertida e colorida.
A nós adultos, cabe a tarefa de sermos porta-vozes dessas fantasias disponíveis para o mundo das crianças. E como faremos isso? Através de uma boa leitura, de um bom livro (aquele que você também tenha prazer em estar lendo), interesse e disponibilidade para apresentar um mundo novo.
Os contos permitem que as crianças enfrentem seus medos, conflitos e angústias, seja com o auxílio das bruxas, vilões ou monstros. Como também renovam as esperanças através de bons atos, amor e carinho com os heróis e mocinhas.
Mário Corso e Diana Corso (2006, p. 17) em Fadas no Divã falam que “(...) ouvir histórias é um dos recursos que as crianças dispõem para desenhar o mapa imaginário que indica seu lugar, na família e no mundo”.
A contação de histórias, portanto, ajuda a pensar sobre nossa existência, nossos comportamentos e num mundo melhor. Claro que elas não trarão felicidade ou a solução dos problemas, nem tornarão o mundo melhor. Mas com certeza ajudarão nessa difícil jornada. Com isso, as crianças passam a enxergar outros caminhos, outras idéias e novos personagens para seus enredos.
Aos pais, contar histórias, portanto, vai muito além de conseguir fazer o filho dormir ou deixá-lo quietinho. Contar histórias aproxima os relacionamentos, estreita as ligações maternas e paternas. As histórias contadas com amor e carinho, com gosto, estimulam a criatividade, a inteligência, a criação, o pensamento e principalmente: o querer e o sentir.
Exercite essa arte. Escolha um livro que você goste ou que conheça a história ou que gostaria de apresentar para seu filho. Crie um ambiente acolhedor, tranqüilo. Faça desse hábito um evento, um momento em família. Utilize desse tempo para fazer parte de um mundo de fantasias. Pegue seu filho no colo, mude o tom de voz, permita que ele veja você sendo outros personagens e veja-o como participante dessa aventura. Saboreie a alegria e entusiasmo que as histórias produzem nas crianças. Utilize dos contos também para passar aquele recado que está difícil de ser escutado, falar sobre assuntos sérios, educativos ou simplesmente contar uma história. Afinal, contar história nem sempre precisa passar uma lição.
Depois disso, me conte uma história sobre essa experiência.
Referência utilizada:
CORSO, D. L. e CORSO, M. Fadas no Divã – Psicanálise nas Histórias Infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Caroline Ciceri - carolinepsico@espacodomquixote.com.br
Psicóloga do Espaço Dom Quixote
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