“ Ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se vive.” Marisa Lanjolo
Há muita preocupação, por parte dos pais, de que seus filhos aprendam a ler bem cedo, antes mesmo de estarem no 1º ano do Ensino Fundamental. Por que esta necessidade de inserir a criança no mundo letrado forçosamente? Parece-me que a aquisição desta competência confere um certo status de inteligência à criança. A criança passa a ser vista como a mais inteligente da turma, adiantada em relação aos colegas.
Esquecem-se, pais e educadores, que aprender a ler palavras, frases e textos é uma operação complexa, que exige prontidão motora, neuronal, maturidade cognitiva e emocional. Não adianta acelerar um processo que precisa de maturidade e equilíbrio para acontecer. E ele acontece, com raras exceções, em todas as crianças.
Com a entrada das crianças aos 6 anos de idade no Ensino Fundamental, antecipa-se esta preocupação de aprender a ler para as crianças de 5 anos, frequentadoras da Educação Infantil. É preciso que pais e educadores compreendam que antes de ler palavras é importante desenvolver na criança a leitura do mundo. Perceber como as crianças leem as imagens e ajudá-las a compreender que essas imagens tem um sentido e dizem alguma coisa é tão ou mais importante que introduzir o alfabeto na Educação Infantil.
Os professores da Educação Infantil devem desenvolver na criança aprendizagens afetivas, sociais, motoras e cognitivas. Cada atividade escolhida precisa levar em conta estas áreas e como elas podem ser beneficiadas na rotina escolar para que a criança se desenvolva.
Ao levar para a sala de aula obras de arte, o educador possibilita à criança interagir com um mundo cheio de significados e intenções. Interpretar e reler uma obra a partir de sua história, da técnica usada pelo artista e compará-la com outras obras ou, até mesmo, produzir sua própria arte, confere autonomia criadora para a criança e traz uma forma de registro pictórica para dentro da sala de aula. Crianças que são estimuladas e motivadas a criar e produzir usando a imaginação desenvolvem muito mais do que a arte por si, desenvolvem a confiança para os acertos e erros da alfabetização.
Nos dias de hoje as crianças já nascem num mundo cheio de informações, imagens e escritas disponíveis a elas desde cedo. É natural que elas perguntem o significado da escrita, da imagem e, desde cedo, tenham interesse em seus próprios registros. É importante não mudar a rota natural: o rabisco, o desenho, a tentativa de escrita e a escrita em si. Achar que uma criança está adiantada porque pulou uma destas etapas ou querer acelerar um destes processos para seguir adiante pode provocar dificuldades no futuro.
A competência leitora vai muito além da leitura de textos, da decodificação de palavras. É necessário desenvolver a interpretação da leitura, sua relação com outras informações e temas, saber buscar informações e transformá-las em novo texto.
Para desenvolver esta competência as crianças precisam aprender a ler imagens, sons, cores, cheiros, movimentos, expressões para compreender que o mundo à sua volta transmite informações que pedem uma interpretação. Portanto, antes de introduzir a escrita e leitura na sala de aula os educadores devem desenvolver a leitura do mundo e suas diversas informações para que as crianças possam dar sentido a leitura das palavras e, de fato, ler e compreender o que estão lendo em um texto.
Pular esta etapa pode comprometer uma alfabetização de qualidade que resultará em empobrecimento ou até em dificuldade de aprendizagem nas séries finais do ensino.
As crianças precisam aprender a falar com o corpo em primeiro lugar. Não será encarcerando-as em salas de aula, enchendo linhas do caderno, com uma rotina rígida que elas desenvolverão todas as suas habilidades, mas respeitando sua maturidade, oferecendo atividades criativas e desafiadoras de acordo com as suas curiosidades.
Janete Cristiane Petry - janetepp@espacodomquixote.com.br
Psicopedagoga do Espaço Dom Quixote
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