“Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo, todo mundo é meu também!” (Tribalistas, 2003)
De duas décadas para cá, ficou estabelecido o FICAR entre os jovens. O que era um comportamento cultural masculino, nesta época de profunda globalização passou a ser adotado também pelo feminino como uma bandeira de igualdade. Portanto meninos e meninas ‘ficam’. Quem não ‘fica’ é visto como esquisito, com algum tipo de conflito na sexualidade e sofre exclusão.
A mídia é grande responsável por isso, ela que propaga modismos explorando a fabricação de ‘pequenos adultos’ com idéias vagas de liberdade. Faz dos adolescentes vítimas perfeitas dessa crescente mania de valorizar a outra pessoa enquanto ela puder proporcionar algo. No momento em que isso não ocorrer, desinveste-se a fim de evitar a frustração.
No ‘ficar’ não existe o fim do relacionamento porque este não existe como um compromisso entre os parceiros. É o instinto que comanda, não a razão. Da valorização do "eu" há o descuido do "tu" e, dificilmente um relacionamento se consolida, pois não há o desprendimento necessário.
Antes de qualquer coisa está o desejo individual, sem abdicar da independência e autonomia para não se fragilizar quando o outro for embora. Ou seja, a autosuficiência é um mecanismo de defesa para evitar que se sofra. Para não sofrer não se ama, se amar deixa de ‘ficar’ e desdobra no temido namoro.
‘Ficar’ pode durar uma noite, uma semana, um mês; pode ser com uma pessoa, duas, dez; o princípio é aceitar que ninguém é de ninguém, vale tudo o que for permitido, sem nenhum tipo de obrigação. Os papéis continuam os mesmos: a menina é que estabelece o limite da intimidade que vai desde um beijo ao sexo propriamente dito, o menino é aquele que está sempre disposto a tudo. Sem esquecer os casais homossexuais, muito mais expostos e desinibidos ultimamente. {o tema merece um texto à parte}
Apesar dos adolescentes de hoje serem muito mais informados, estão presos. A adolescente tenta expressar toda a competência do prazer de decidir o que fazer com sua vida, corpo e sexualidade, contudo não tem sabido como se utilizar desta liberdade. A menina caiu na mesma armadilha medíocre que sempre foi imposta ao menino e ambos estão perdidos. Elas incorporaram o modelo masculino que inibe os meninos que não aceitam em muitas ocasiões lidar com esta nova postura feminina, acabam usando-as e desrespeitando-as.
Essa novidade até pode ser uma evolução e uma nova maneira de expressar a sexualidade, conhecer pessoas, testar os próprios sentimentos, mas não tem contribuído muito para a sadia afetividade.
Quem pratica o ‘ficar’ com intensidade, por mais parceiros que tenham sempre estará só. O ‘ficar’ não estabelece vínculo, a única coisa que nos dá segurança, ajuda no crescimento e desenvolvimento das competências humanas.
O próprio comportamento impulsivo acaba expondo o indivíduo a frequentes frustrações, pois tudo passa a ser descartável quando o consumo passa a reger a forma de comunicação. Há sempre uma descrença acerca das expectativas futuras, em ideais ou perspectivas.
A adolescência é uma época em que a insegurança se faz presente de forma marcante, e eles buscam experimentar para não se frustrar facilmente, querem transgredir limites, inovar, buscar sua identidade, mas precisam que alguém os ajude a descobrir o que o Cazuza só descobriu depois que contraiu o vírus HIV: “(...) viver a liberdade, amar de verdade, só se for a dois.”
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