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Filhos do divórcio



O momento da separação de um casal envolve muitos sentimentos, sofrimento, dor, dúvidas e podem ser vivenciados de diversas formas pelos filhos. No entanto, a maneira como os pais lidam com a situação não é sem consequências para seus filhos. Levando em conta esse tema, indico o texto da psicanalista Magda Mello que trata de forma clara e consistente a trama envolvida no processo de separação de um casal e as consequências psíquicas para os filhos. Boa leitura! 

Filhos do Divórcio

O tema do divórcio ou das separações entre casais atualmente circula em grande número de famílias, trazendo consigo consequências que poderão afetar os filhos. Mas poderíamos nos perguntar: será que o estado de desentendimento entre pais não abala o filho tão profundamente quanto à separação ou divórcio? Como é que numa casa em que vivem o pai e a mãe em estado de desentendimento a criança poderia não se sentir ameaçada na sua integridade física e mental? Muitos destes filhos são bastante angustiados e chegam a perguntar para os pais: “vocês vão se separar?” Eles gostariam de saber se os pais vão se separar ou continuar brigando. 

Na verdade o divórcio legaliza o estado de desentendimento e leva a uma libertação da atmosfera de discórdia e a uma nova situação para os filhos. Para estes, o assunto inicialmente é misterioso, mas não deve permanecer como tal. De fato, o divórcio é uma situação legal que traz uma solução também para os filhos. 

Por outro lado, estudos atuais nos apontam para a Síndrome de Alienação Parental que se caracteriza por um dos pais afastar os filhos do outro. As mães ou pais que afastam os filhos do ex não estão procurando prejudica-lo. Na maioria dos casos a alienação é feita de forma inconsciente, mas abriga claramente sentimentos de vingança em relação ao outro, em especial quando o(a) ex já se casou ou constituiu uma nova família. Também confundem conjugalidade com parentalidade, acreditando que os problemas do relacionamento dos dois se estendem à criança, que a pessoa acredita estar protegendo. A ideia não é prejudicar o filho, mas dificultar a vida do outro. 

As consequências das ações exercidas sobre as crianças em afastá-la de um dos pais podem ser bastante sérias: 

1) pode levar à psicose ; 

2) a criança poderá mais tarde rebelar-se contra quem detém a guarda e a colocou contra o pai ou a mãe; 

3) repetição do padrão de comportamento (esquizóide) cindido entre o bem e o mau para a sua própria vida futura. Quer dizer: se um dos pais é o bom e o outro o mau, assim ela imprime este padrão na vida com as ouras pessoas. 

O único tratamento para pais e crianças atingidos pelas consequências destes conflitos é a psicoterapia. O problema é que a maioria se recusa a reconhecer estas questões. Portanto, é preciso encontrar um arranjo que resolva a situação da separação sem afastar nem pai nem mãe dos filhos, amenizando os sofrimentos de todos. 

Cabe lembrar, que a construção das imagens dos pais servirão de modelos de identificação e de escolhas futuras do filho em relação a sua vida afetiva. O pai, por exemplo, só assume importância na vida da criança pequena pelo fato de a mãe nomeá-lo e pelo valor atribuído a ele nas suas palavras. A mãe tem valor por si só, mas o pai se reverte em recurso afetivo da mãe, a qual, referida a ele, torna-se o recurso afetivo do filho. Este é o padrão afetivo normal da família. O homem irriga a mulher e esta supre os filhos. Quando isto se rompe todo o cuidado é pouco para que não se destrua a imagem dos pais para os filhos! 

*Autora do texto: Magda Mello – psicóloga, psicanalista, Doutora em Psicologia. Texto retirado do site: www.sig.org.br/artigos/ 


Thaís C. Chies - thaispsico@espacodomquixote.com.br
Psicóloga do Espaço Dom Quixote
Especialista em Infância e Adolescência; Psicanalista em formação pela Sigmund Freud Associação Psicanalítica

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