Quando se fala em Dia da Criança ao que você associa? Crianças, presentes, brinquedos, brincadeiras, o que mais? O “12 de outubro” é uma data muito esperada pelas crianças. Ao longo do ano elas vão anunciando e pensando no presente que desejam ganhar nesse dia - “eu quero uma bicicleta”, “eu quero uma boneca”, “eu quero o laptop do Ben 10”, “eu quero uma pista do Hot Wheels”, “eu quero uma barbie”, etc. Diante disso muitos pais se perguntam o que fazer com tantos pedidos. Mas, porque será mesmo que presentiamos as crianças nesse dia?
O Dia das Crianças é uma data comemorada em diferentes países. Muitos desses comemoram no dia 20 de novembro, que corresponde à data de aprovação da Declaração dos Direitos das Crianças, convencionado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1959, que institui uma série de direitos válidos a todas as crianças como: alimentação, educação, cuidados com a saúde, afeto, amor, compreensão, lazer, proteção contra toda forma de exploração das mesmas, entre outros.
No entanto, cada cultura e país escolhe uma data e determinados tipos de celebrações para lembrar e comemorar o dia das suas crianças. No Japão, por exemplo, a comemoração é feita em dois dias do ano, no dia 05 de maio é comemorado o Dia dos Meninos e 03 de março Dia das Meninas. No Dia dos Meninos, as casas e ruas são enfeitadas e são feitas refeições com comidas típicas e também são realizadas espécies de gincanas. E no Dia das Meninas acontece o Festival das Bonecas onde as famílias organizam exposições de bonecas que foram transmitidas de mães para filhas.
Em nosso país, a criação do Dia das Crianças foi sugerida pelo deputado federal Galdino do Valle Filho na década de 1920, mas foi em 1924 que se decretou o dia 12 de outubro como data oficial para comemoração do Dia das Crianças. Porém, a data não se popularizou imediatamente. Somente em 1960 a data começou a ser comemorada de forma mais abrangente, a partir de uma campanha de marketing, elaborada pela fábrica de brinquedos Estrela juntamente com a Johnson & Johnson, que se chamou “Semana do Bebê Robusto”. Essa campanha teve sucesso e então atraiu a atenção de outros empresários ligados à indústria de brinquedos, que lançaram uma campanha publicitária “Semana da Criança” com o objetivo de alavancar as vendas. As campanhas tiveram bons resultados de vendas e fizeram com que esse mesmo grupo de empresários mantivesse a comemoração do Dia das Crianças associando-a a muitos presentes.
No Brasil, portanto, podemos pensar que essa data está marcada em sua origem popular por uma ideia mercantil e capitalista. Na campanha inicial vemos que está atrelada à imagem de um Bebê Robusto. No dicionário encontramos como sinônimo de robusto – vigoroso, resistente, musculoso. Qual seria a intenção de associar a imagem/ideia de um Bebê Robusto com presentes e brinquedos? Penso que essa combinação toma forma e força de venda ao seduzir os adultos e as crianças com a falsa ideia de que possuir, consumir um produto – presente, brinquedo - torna as crianças mais fortes, vigorosas, poderosas, robustas.
O que sabemos é que em nosso país comprar presentes e Dia das Crianças estão muito relacionadas, e isso ninguém discorda. As pesquisas nos apresentam isso. O Dia das Crianças é a terceira melhor data do ano em volume de vendas, perde só apenas para o Natal e para o Dia das Mães. Em reportagens de economia encontramos as seguintes manchetes: “O Dia das Crianças é uma data importante para o comércio”, “O Dia das Crianças é termômetro para o Natal”, etc.
Mas o que mesmo comemoramos no Dia das Crianças? O comércio comemora o volume de venda! E você, o que comemora? Comemoramos bebês/crianças robustas, poderosas e cheias, repletas de brinquedos? E o que mais?
E os Direitos das Crianças? Onde ficam?
Nos primórdios de nossa vida, querer, poder e ter não estão diferenciados e discriminados, ou seja, impera as fantasias de “tudo quero”, “tudo posso”. Para as crianças é seu direito tudo ter, no momento que se deseja e da forma que se espera. Isso é do infantil. No entanto, os adultos aos poucos vão apresentando para o “bebê robusto” (que tudo quer e que pensa que tudo pode) dados de realidade que lhe mostram que nem tudo se pode, que tem coisas que é preciso esperar para ter, que no mundo existem regras e leis que regem a todos. Mas, querer não faz mal, muitíssimo pelo contrário. É fundamental que a criança deseje, que busque e queira coisas para si, assim pode crescer e se desenvolver.
Porém, a questão está em o que se faz com os pedidos e com os quereres das crianças. Na atualidade percebemos que muitos pais se sentem no dever de ofertar, de proporcionar todos os quereres e desejos de suas crianças. E com isso compram e vestem a falsa ideia de que ao fazerem isso estão cumprindo seus deveres de pais e oferecendo tudo o que a criança “precisa”. Sentem-se pais robustos de filhos robustos.
No entanto, será que se está realmente garantindo para as crianças o que ela precisam e seus direitos? É somente o adulto que pode discriminar para a criança o que ela realmente precisa e quais são seus direitos. É o adulto que possui a noção do que é direito. Garantir direitos à criança está estreitamente relacionado a cuidar com o ser da criança. Num mundo onde há uma tendência mercantil de transformar as necessidades em produtos a serem consumidos, torna-se um desafio abrir espaços de direito para as crianças que estejam para além do consumo, assim como proteger, cuidar e garantir que a criança não fique alienada a esse contexto. Como fazer valer os direitos da criança de educação, lazer, saúde, de cuidados, de proteção à exploração? Eis uma questão importante para refletir em tempos de Dia das Crianças.
Algumas informações desse texto foram retiradas do site www.brasilescola.com
Thais C. Chies - thaispsico@espacodomquixote.com.br
Psicóloga do Espaço Dom Quixote
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