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LESÃO MEDULAR E TERAPIA OCUPACIONAL: aprendendo a conviver com as limitações e buscando progressos




A LESÃO MEDULAR

A medula espinhal é uma importante via de comunicação entre cérebro e as outras partes do corpo. A medula é uma parte do Sistema Nervoso Central que conecta o cérebro com os nervos responsáveis pela condução das ordens motoras e sensitivas. Além disso, a medula funciona como centro regulador de funções importantes como respiração, circulação, bexiga (micção), intestino (evacuação), temperatura e atividade sexual. Quando a medula é lesada ocorre uma interrupção na condução das ordens motoras e sensitivas em algum nível da coluna vertebral. Quanto mais alto o nível da lesão, maior será o comprometimento, que sempre se dá abaixo do nível da lesão. As lesões podem ser:

Traumáticas: Decorre de algum tipo de acidente fraturando a coluna com conseqüente ruptura da medula espinhal, afetando seu funcionamento adequado.

Não traumáticas: Geradas fatores diversos como tumores que comprimem a medula ou regiões próximas, acidentes vasculares e hérnias de disco que acabam levando ao corte ou diminuição do fluxo sanguíneo.

Assim os comprometimentos corporais variam de acordo com o nível da lesão desde paralisias (perda da força muscular), até deficiência no controle das necessidades de defecar e urinar, além de sexualidade e respiração.

Ainda podemos classificar a lesão medular em:

Lesão Completa: Onde há comprometimento de todas as vias sensitivas e motoras.

Incompleta: Aqui o comprometimento se dá no nível de algumas vias motoras e/ou sensitivas, havendo retorno parcial ou total da movimentação voluntária e/ou sensibilidade.

Imediatamente após o trauma, inicia-se uma fase chamada de choque medular, onde não haverá a presença de qualquer tipo de reflexo, movimentos involuntários ou espasticidade. Essa fase tem duração média de alguns dias, podendo se estender até alguns meses. Ao término dessa fase, se não houver agravamento maior, gradativamente os reflexos surgirão.

O TRATAMENTO

O tratamento médico inicial tem como principais objetivos a preservação anatômica e a funcionalidade da medula espinhal. Além da restauração do alinhamento da coluna vertebral, estabilização do segmento vertebral lesado, prevenção de complicações gerais e locais e o restabelecimento precoce das atividades do paciente, devendo ser realizado o mais precocemente possível, desde que as suas condições gerais permitam. Enquanto o tratamento cirúrgico é apenas para reduzir e realinhar o segmento vertebral lesado, restaurar a estabilidade do segmento lesado a fim de evitar lesões adicionais da medula espinhal e favorecer a sua recuperação.

QUAL A FUNÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL?

O terapeuta ocupacional participa do tratamento de reabilitação desde a chegada do paciente ao hospital. O paciente chega na fase aguda e é admitido na unidade de terapia intensiva. Esta fase se caracteriza pela paralisia flácida temporária causada pela ausência de reflexos musculares. Neste momento, cabe ao terapeuta ocupacional orientar o correto posicionamento dos membros superiores para enfermagem e familiares, especialmente em pacientes com lesão cervical. Através de movimentos passivos, lentos e suaves, busca-se manter a amplitude do movimento, prevenir quadros de dor aguda decorrentes da falta de movimentação e o fortalecimento muscular.

Na fase de pré-reabilitação, o terapeuta ocupacional indica e orienta exercícios que o paciente pode realizar com o seu acompanhante e independentemente, verifica a possibilidade do paciente realizar atividades de vida prática e diária com independência. De acordo com Priscila, o profissional orienta manobras e/ ou confecciona adaptações, prescreve a cadeira de rodas. Já na fase de reabilitação o objetivo terapêutico ocupacional visa melhorar o potencial funcional do paciente em prol da sua independência. Através de mobilizações para relaxamento e alongamento da coluna cervical, cintura escapular e membros superiores, treino de equilíbrio de tronco e treino funcional dos membros superiores, fortalecimento da musculatura remanescente, prescrição, confecção e monitoração de órteses de posicionamento ou funcional.

Além disso, o terapeuta ocupacional integra a equipe e atua visando não apenas a recuperação funcional da pessoa com lesão medular, mas também como em questões referentes à aceitação da deficiência, da inclusão social, das atividades de trabalho, entre outras.

Para tornar o ambiente do paciente o mais funcional e adequado o terapeuta ocupacional faz uso da tecnologia assistiva. A Tecnologia assistiva é o termo utilizado para identificar todo o tipo de recursos e serviços que visem proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e assim promovendo uma vida independente e inclusiva. Dentro desta área trabalhamos com comunicação alternativa e ampliada, adaptações de acesso ao computador, equipamentos de auxílio para visão e audição, controle do meio ambiente, adaptação de jogos e brincadeiras, adaptações da postura sentada, mobilidade alternativa, próteses, adaptações ambientais, de uso diário e uso prático.

Ainda ao terapeuta ocupacional, cabe avaliar as necessidades do paciente, bem como suas habilidades físicas, cognitiva e sensorial, assim como discutir formas de acesso, desenvolver a funcionalidade de membros superiores e outras partes do corpo e promover atividades de vida diária, envolvendo avaliação e adaptação de posturas para a realização das atividades. Não se esquecendo que ao avaliar o paciente deve-se atentar-se a receptividade do sujeito quanto a modificação ou uso da adaptação, além da sua condição sociocultural e às características físicas do ambiente.

O terapeuta ocupacional instrui o uso apropriado do recurso de tecnologia assistiva e orienta as outras pessoas envolvidas no uso dessa tecnologia. Hoje vemos muito as adaptações de talheres, copos e maquiagem. A No caso da lesão medular o tratamento na água, traz uma diversidade de benefícios onde há uma liberdade de movimentos proporcionada pela terapia na água, a diminuição da força da gravidade possibilita ao paciente posições e atividades que não seriam possíveis de serem realizadas fora da água, além do efeito de relaxamento muscular que a hidroterapia proporciona, tendo em vista as grande contraturas desenvolvidas na musculatura desses pacientes.

Cabendo ao terapeuta ocupacional adaptar o ambiente, resgatar a auto-estima e prevenir deformidades que possam surgir, através de modificações, alongamentos, movimentos passivos, explica a terapeuta ocupacional Priscila.

A tecnologia assistiva como recurso terapêutico ocupacional permite as pessoas portadoras de deficiências e seus familiares possam ter uma vida satisfatória e com maiores possibilidades, como a inserção social.

Priscila Straatmann Mórel – priscilato@espacodomquixote.com.br

Terapeuta Ocupacional e Psicomotricista do Espaço Dom Quixote

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