Às vésperas do Dia das Crianças penso que vale uma reflexão sobre a infância atual. Quem são as crianças da contemporaneidade? Meninas demasiadamente enfeitadas, preocupadas com a estética, mais do que com as bonecas. Meninos que só comem “bisnaguinha” com coca-cola, dormem na cama com a mãe e expulsam o pai do quarto. Meninos e meninas sem joelhos arranhados, mas com dedos calejados de tanto jogar no i-pad, i-phone ou qualquer outro “i”, porque a marca para eles já é importante desde antes de saberem ler.
A criança atual manda e desmanda nos pais, mas é cheia de medos. Medo do escuro, medo de sair na rua sozinha, medo de dormir no próprio quarto, medo de ir para a escola. Os pequenos estão preparados para enfrentar o mundo, apenas através da tela do computador, onde criam mundos paralelos no “Minecraft”, vestem seus pinguins no Club Penguin, mas não são capazes de se vestirem sozinhos ou fazerem o próprio Nescau.
A infância contemporânea me preocupa, pois vemos pais angustiados e superprotetores que não conseguem trabalhar a capacidade de tolerância com seus filhos, que não conseguem suportar o choro da criança. Pais, por outro lado, demasiadamente exigentes com o resultado e as expectativas com relação aos pequenos: serem ótimos no inglês, no ballet, no futebol, na matemática, na dança... A criança não tem espaço para errar, para sujar, para se divertir. Em busca de um reconhecimento na sociedade, pais narcísicos exigem filhos perfeitos, mas se sentem culpados por isso e aliviam justamente onde não poderiam aliviar: nas regras.
Pensam que é fácil ser criança na atualidade? Grande engano! A criança, para se sentir tranquila, precisa conhecer a hierarquia, sentir que os pais sabem o que é melhor para elas, serem punidas quando fazem algo errado com relação às regras combinadas. A criança, para se sentir feliz, precisa poder rabiscar uma folha sem compromisso, errar a letra da música, se atrapalhar durante a dança de ballet, cair da árvore e esfolar o joelho...
Neste dia das crianças desejo aos nossos pequenos mais limites, menos expectativas... mais rotina e menos cobranças de resultados... mais dedo sujo de tinta, mais roupa rasgada no joelho de tanto ralar no chão, mais gargalhadas, mais brincadeiras despreocupadas!
Fabíola Scherer Cortezia – fabiola@espacodomquixote.com.br
Psicóloga do Espaço Dom Quixote
Especialista em Infância e Adolescência
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