Muitas pessoas encontram dificuldade de expressar sentimentos, de mostrar afeto. Nos dias de hoje parece até que nos acostumamos com isso já que, cada vez mais, vivemos em pequenas bolhas de reclusão e, vez por por outra, permitimos que a nossa bolha entre em contato com a bolha de outra pessoa. Aceitar que existam pessoas que preferem a reclusão ao relacionamento é um fato, mas acreditar que esta é uma forma sadia de viver não. As pessoas precisam relacionar-se para ampliar suas experiências, desenvolver suas emoções (positivas e negativas) e desenvolver os aparatos de defesa necessários para uma vida saudável e proativa.
Algumas pessoas aprendem, ao longo da vida e com as experiências, a dar espaço para os relacionamentos. Aprendem a tirar proveito das relações e a crescer com elas. Afinal, relacionar-se não é fácil, exige esforço e dedicação, inclui perdas e ganhos, mas equilibra o ser humano, faz dele alguém melhor, mais hábil para resolver os desafios do cotidiano, cada vez mais difíceis.
Em alguns casos não basta ter vontade e disciplina para aprender a relacionar-se. É preciso uma ajuda especial. No caso de pessoas autistas, onde o aparato dos relacionamentos está comprometido, é importante um investimento maior, com ajuda de especialistas e com muita paciência e dedicação da família. Em muitas situações os animais podem ajudar a minimizar barreiras, a aproximar olhares e gestos já que eles são dotados de uma sensibilidade especial.
Um filme conta uma dessas experiências emocionantes onde um cachorro conseguiu romper o silêncio de uma criança para ajudá-la a melhorar sua vida.
O nome do filme é “Um amigo inesperado” e é baseado no livro do mesmo título, que conta a história verídica de Kyle Gram, um garotinho de 6 anos, que é diagnosticado como tendo autismo por viver em seu próprio mundo. Kyle se interessa somente pelo desenho animado de um trem, chamado Thomas – muito famoso nos Estados Unidos. Seus pais sofrem muito por não conseguir se comunicar e interagir com o filho. Então, sua avó materna utiliza um boneco que “conversa” com o garoto, e assim conseguem que o menino obedeça algumas ordens simples, como comer.
Depois dessa tentativa, surge a ideia de dar um cachorro para Kyle, que automaticamente é chamado de Thomas. A partir desse momento, cria-se um vínculo de afeto e interação entre o cachorro e o garoto, e desta forma, a cada dia, Kyle se afasta do seu próprio mundo e começa a interagir com as pessoas à sua volta, usando como canal o cachorro.
O garoto que deu origem a essa história chama-se Dale Gardner e aos 18 anos declarou que o fato de seus pais se comunicarem com ele por intermédio de Thomas fez toda a diferença para que seu silêncio fosse quebrado, devido à simplicidade de gestos e feições que o cachorro lhe ofereceu logo de imediato.
Este é um filme para assistir e refletir sobre as possibilidades de interação possíveis e como podemos aprender a nos relacionar para superar dificuldades, medos e “marcas” impostas pelos olhares dos outros.
Ter um animal para socializar pode significar muito para uma criança, uma pessoa carente de afetos ou com dificuldade de relacionar-se. É uma oportunidade de aprender a cuidar de outro ser vivo, interagir afetivamente com ele, desenvolver responsabilidades como dar banho, alimentar, levar para passear e proteger. Para muitas crianças/pessoas cuidar de um animal é a garantia de companhia em todos os momentos, de muitas gargalhadas, explosões de sentimentos, exercício físico e envolvimento. Mesmo a perda deste animal, no futuro, representa a elaboração de sentimentos importantes e fundantes da nossa estrutura psíquica.
Vale a pena tentar incluir na família um novo membro!
Janete Cristiane Petry - janetepp@espacodomquixote.com.br
Psicopedagoga do Espaço Dom Quixote
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