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Influência dos pais no estilo de vida e no excesso de peso dos jovens



Mudanças no estilo de vida têm afetado indivíduos de todas as faixas etárias, e atualmente nosso estilo de vida caracteriza-se pelo sedentarismo e por hábitos alimentares inadequados, com alta ingestão de alimentos pobres em nutrientes e ricos em gordura, açúcar e sódio. Tais condutas levam ao desenvolvimento das tão faladas Doenças Crônicas Não Transmissíveis, dentre as quais podemos citar: hipertensão (pressão alta), diabetes, doença renal crônica, doenças vasculares, dislipidemias (um nome um tanto assustador que designa simplesmente a alteração nos níveis de gordura no sangue, como por exemplo, o aumento nos níveis de colesterol ou triglicerídeos) e, é claro, a OBESIDADE.


Esta doença, de causas extremamente complexas, exige um longo e sério tratamento, não menos complexo do que as causas que a originaram. E é por este motivo, e por sua ampla progressão (que já não escolhe idade, sexo ou classe econômica), que a obesidade é atualmente considerada uma epidemia mundial.


O aumento nos índices de obesidade ocorre de maneira mais expressiva desde a década de 80 e, no Brasil, a prevalência da epidemia subiu de 2,9% em 1974/75 para 13,1% em 1996/97 entre jovens do sexo masculino, e de 5,3% para 14,8% entre jovens do sexo feminino¹. Ou seja, a prevalência de obesidade triplicou entre nossas crianças e adolescentes em apenas duas décadas!O aumento foi mais significativo nas áreas urbanas, algo facilmente compreensível pelo sedentarismo exacerbado, pela constante e massiva influência da mídia e também pelo acesso facilitado aos mais diversos tipos de tecnologia e também aos alimentos de consumo rápido (“fast food”), em geral de alto valor calórico.


Um recente artigo de revisão, escrito por Ferrari (2009)2, constatou que a prevalência de sobrepeso e obesidade em pré-escolares no Brasil varia de 3,3 a 3,6%; em escolares varia de 7,4 a 53,3% e nos adolescentes varia de 9% a 45,4%. Assustador, não?
Entretanto, é preciso que tenhamos bem claro que existem inúmeros agentes que influenciam no estilo de vida dos jovens, sendo que os principais são: os pais, a escola, o grupo de convívio social e a mídia. Oportunamente falaremos de cada um deles, mas hoje gostaria de mostrar como os filhos podem realmente ser um “reflexo” dos pais:


Em estudo recente (Petroski & Pelegrini, 2009)3, percebeu-se que as mães de adolescentes com alto percentual de gordura corporal possuíam maior IMC* e índices duas vezes maiores de sobrepeso do que as mães de adolescentes com baixo percentual de gordura corporal. Já os pais dos adolescentes com alto percentual de gordura apresentaram prevalência duas vezes maior de excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) do que os pais dos jovens com gordura corporal baixa. Estudos anteriores já demonstraram haver relação entre o IMC dos pais e o IMC dos filhos, bem como o aumento de chances de o/a filho/a desenvolver sobrepeso/obesidade caso possua um ou os dois pais com excesso de peso.4,5,6 Ou seja, é perceptível a influência dos hábitos de vida dos pais, bem como a constituição física que deles resulta, na composição corporal e no ganho excessivo de peso dos filhos.


Isso demonstra claramente a importância de se buscar orientações e educação alimentar adequada desde a faixa etária mais precoce, de modo que a criança ou jovem atinja todo o seu potencial de crescimento e desenvolvimento, sofrendo o mínimo possível com os eventuais impactos negativos que agentes externos possam lhe causar. É de extrema relevância também que os pais participem do tratamento do jovem, contribuindo no maior entendimento das causas/da origem do distúrbio, e que modifiquem seus hábitos junto com os filhos, de modo que a mudança de estilo de vida e a melhora da qualidade de vida ocorra para toda a família.


*O Índice de Massa Corporal estabelece uma razão entre o peso e a altura da pessoa. É calculado dividindo-se o peso (em kg) da pessoa pela altura (em metros) e novamente pela altura (em metros). Valor de IMC maior de 25 kg/m² indica sobrepeso e maior de 30 kg/m² indica obesidade.


Débora Kilpp
Nutricionista do Espaço Dom Quixote



Referências bibliográficas:
1 – WANG, Y; MONTEIRO, C; POPKIN, B. Trends of obesity and underweight in older children and adolescents in the United States, Brazil, China, and Russia. Am J Clin Nutr 2002;75:971–7.
2 – FERRARI, HG. Panorama da obesidade em crianças e adolescentes brasileiros: revisão dos últimos 10 anos. Pediatria (São Paulo) 2009; 31(1):58-70.
3 - PETROSKI EL, PELEGRINI, A. Associação entre o estilo de vida dos pais e a composição corporal dos filhos adolescentes. Rev Paul Pediatr 2009;27(1):48-52.
4 - LI et al. Intergenerational influences on childhood body mass index: the
effect of parental body mass index trajectories. Am J Clin Nutr 2009;89:551–7.
5- BEHRMAN, RI; KLIEGMAN, R. Nelson Princípios de Pediatria. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ganabara Koogan S.A., 1994.
6 - RAMOS, AMPP; FILHO, AAB. Prevalência da obesidade em adolescentes de Bragança Paulista e sua relação com a obesidade dos pais. Arq Bras Endocrinol Metab (São Paulo), 2003; 47(6):663-668.

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