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Por que as crianças vão ao analista?



Muitas vezes, quando me apresento como psicóloga de crianças e adolescentes, escuto a pergunta: “Mas por que as crianças vão ao analista?” Em resposta à duvida de muitas pessoas, encontrei o texto abaixo no livro “Divã: Janelas para o Cotidiano”, da psicanalista Magda Mello e pensei em compartilhá-lo com vocês! Boa leitura! 

Fabíola Scherer Cortezia – Psicóloga, especialista em Infância e Adolescência


Repensando a clinica infantil historicamente, pode-se dizer que, antigamente o analista escutava a partir de um lugar de quem sabia tudo e como iria investigar e localizar a onde os pais teriam “errados” com a criança. Era como se alguém tivesse cometido um “crime”, um erro, ou como se a criança tivesse necessariamente traumatizado com algo. O terapeuta de crianças se parecia mais com um detetive atrás de fatos da história que comprovasse a sintomatologia, do que um profissional de saúde. 

Nos tempos atuais, nós psicólogos / analistas escutamos a criança através dos pais atravessados pela dor psíquica que paira no ambiente familiar. Hoje, na era pós-freudiana, escuta-se de forma mais aberta: ouve-se o que o outro sente, amplia-se o espaço para pensar juntos e a proposta de tratamento ou de intervenção terapêutica resulta de um trabalho a partir do reconhecimento da dor, aliada à curiosidade de conhecer as demandas inconscientes. Decifrar o padecimento de uma criança e de uma familiar é possibilitar a apropriação de uma história singular. Reconhecer os limites de cada um possibilita abrir um espaço para fazer circular o desejo e o prazer de conviver. 

A análise ou terapia possibilita a modificação dos ruídos, sintomas e descompassos na relação criança / pais, a partir da relação terapêutica. Lembrando que, em tempos de volta as aulas, os pais precisam ficar atentos ao retorno de manifestações sintomáticas que ficaram adormecidas durante as férias. Dificuldade na aprendizagem pode ser sinal de bloqueios emocionais. 

A criança que, através do tratamento psicológico recupera a alegria, o prazer em brincar, o prazer em executar as tarefas escolares, que pode ser espontânea respeitando os limites que lhe são impostos pela cultura, na verdade recupera a saúde mental para seguir livre seu caminho. 

Consequentemente, a família se reorganiza e se liberta da culpa ou do sofrimento que carrega ao ver um filho perdido, muitas vezes sem rumo. 

Entender a trama familiar na quais a estão inseridos os infantes é o desfio atual na clínica de crianças, associada à solicitação social de respostas pontuais para sintomas que estruturam gradativamente no núcleo familiar ao longo das cenas relevadas dos mitos escondidos. Desvelar, desvendar e poderem pensar, junto com os pais, os sintomas da criança continua sendo o maior desafio da clínica de crianças na atualidade. É preciso repensar a infância!

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