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Autismo e Nutrição


O autismo infantil tem chamado muito a atenção nos últimos anos, é descrito como uma forma de desordem neurológica de causa desconhecida, caracterizada pela deterioração e demora na interação social e na aquisição da linguagem, bem como déficit de habilidades com padrões de comportamentos repetitivos e de sintomatologia iniciada antes dos 3 anos de idade. 

Inúmeras hipóteses são citadas diariamente sobre a causa do autismo, além das anormalidades associadas com o desenvolvimento motor e comportamental, estudos observam alterações no metabolismo de nutrientes, principalmente das proteínas, do paciente com autismo. 

Pesquisadores acreditam que a nutrição tenha uma grande influência nos transtornos do espectro autístico, e acreditam que a alimentação pode interferir na saúde de uma criança autista, funcionando inclusive como um gatilho para a intensificação dos sintomas. 


A literatura científica tem reportado níveis sanguíneos elevados de gluteomorfina (peptídeos derivados da proteína do glúten) e a caseomorfina (peptídeos derivados da caseína). O aumento da concentração dessas substâncias está relacionado com alteração do nível de acidez estomacal, alteração da motilidade intestinal, redução do número de células nervosas do sistema nervoso central e inibição da neurotransmissão. 

A partir desses achados surgiram algumas hipóteses sobre a possível relação entre autismo e distúrbios do metabolismo proteico, correlacionando o consumo das proteínas derivadas do leite e glúten ao agravamento dos sintomas do transtorno autístico. Pesquisas relatam que crianças autistas que aderiram a uma dieta isenta de caseína e glúten apresentaram melhora dos sintomas. 

O que acontece é que quando esses alimentos são retirados, geralmente melhora-se o estado geral: melhora a concentração, diminui a hiperatividade, a cognição e a socialização. Isso ocorre porque a grande maioria dos autistas, apresentam deficiência enzimática, principalmente da enzima dipeptidilpeptidase IV (DPPIV), responsável por hidrolisar (quebrar) essas proteínas. Além disso, costumam apresentar disbiose e hipermeabilidade intestinal e, dessa maneira, esses peptídeos (fragmentos de proteínas) acabam passando pela membrana intestinal, caindo na corrente sanguínea, atravessando a barreira hematoencefálica e chegando ao cérebro, agindo como drogas opióides semelhantes a heroína e morfina. 

O fato é que a dieta isenta de glúten e caseína ganhou fama mundial como “a dieta do autismo” sendo muito infeliz, pois ela cobre apenas uma parte bem pequena do problema. 

E aproveitando-se da tal fama da dieta, as indústrias do setor alimentício lançaram no mercado uma infinidade de produtos com o rótulo “livre de glúten” e/ou “livre de caseína”, dando aos pais uma falsa sensação de segurança: se é livre de caseína e livre de glúten, então o produto deverá ser bom para meu filho autista, porém são produtos repletos de gorduras e açúcar, em alguns casos cheios de adoçantes artificiais, carboidratos refinados, gorduras alteradas e desnaturadas, proteínas alteradas e desnaturadas e outras tantas substâncias que crianças autistas jamais deveriam consumir. 

Portanto, eliminar o glúten e a caseína da dieta de crianças autistas pode ser um tratamento alternativo, e sim, pode se ter resultados satisfatórios, porém nem sempre em todos os casos. 


O que não podemos esquecer é que as crianças autistas, assim como todas as crianças, precisam de uma alimentação de qualidade, o mais natural possível, repleta de frutas e vegetais frescos, retirando-se possíveis alimentos alergênicos, alimentos industrializados, açúcar e aditivos químicos em geral. 


Cristine Cassel - cristinenutri@espacodomquixote.com.br 
Nutricionista do Espaço Dom Quixote

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