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A música é inofensiva? Ou é preciso tomar algum cuidado ao utilizá-la?


Será que a música é totalmente inofensiva? Podemos utilizá-la em qualquer lugar e com qualquer pessoa sem precisar tomar cuidado? Seja em sala de aula, nas sessões de Musicoterapia, em outras modalidades de terapia como suporte ou como som ambiente?


A resposta é: não, a música não é inofensiva! Ela pode provocar desde prejuízos físicos, como perda da audição (Confira o texto Fones de Ouvido – 8 de setembro de 2011 - Marcadores: adolescente, audição), a sérias respostas emocionais, podendo trazer à tona traumas ou más lembranças. Além do mais, há pessoas com condições neurológicas que as impedem de apreciar ou fazer música ou até provocar crises mais graves, em casos raros.

O gosto musical e o efeito da música em cada um é muito pessoal. Cada pessoa tem um repertório de músicas que estão vinculadas com experiências às vezes boas, mas às vezes ruins, que lembrem determinados momentos e pessoas.

A música, quando nos gera prazer ou grande incômodo, provoca alterações fisiológicas relacionadas ao nível de cortisol (hormônio do estresse), à liberação de endorfinas, à concentração de imunoglobulina A (hormônio responsável pelo sistema imunológico), à ativação ou não dos nervos parassimpáticos (responsáveis pelo relaxamento do corpo), entre outros. Efeitos que podem ser positivos ou não. Uma música que provoca contentamento dilata os vasos sanguíneos, relaxando, baixando a pressão arterial, melhorando a oxigenação do corpo e, consequentemente, o funcionamento do cérebro e do coração. Já quando provoca desconforto estreita os vasos sanguíneos, tendo o efeito contrário.

Essas respostas são respostas emocionais que o cérebro pode produzir ao processar uma música ou estímulo sonoro, dependendo da relação da pessoa com essa música ou estímulo. Quando recebemos uma informação sensorial, como algum som ou música, essa informação chega ao tálamo, no cérebro, e é encaminhada para os centros envolvidos com a razão que irão processar, interpretar e analisar essa informação, levando à compreensão racional do estímulo. A partir daí, a informação é enviada para a amígdala (centro das emoções), gerando uma resposta emocional, se for o caso. Porém, há uma parte dessa informação sensorial que percorre outro caminho no cérebro, uma espécie de atalho, indo do tálamo diretamente para a amígdala e provocando uma resposta emocional antes mesmo de se ter consciência da informação que chegou. É uma resposta mais rápida do cérebro, mas menos precisa, gerando a liberação de hormônios que provocam uma ação indutora ou inibidora de órgãos ou outras regiões, seja contraindo músculos, vasos sanguíneos, aumentando a pulsação e a respiração (conhecida como “reação de lutar ou fugir"), ou, o contrário, induzindo ao relaxamento. A “reação de lutar ou fugir” é a mesma que ocorre ao realizarmos “atos impulsivo”, onde reagimos sem pensar.

Esses dois níveis de resposta cerebral estão relacionados ao processamento da música no cérebro e ocorrem simultaneamente. A resposta que chega primeiro é completamente emocional, podendo provocar diversas e fortes reações emocionais, antes de atingir os centros racionais do cérebro. Após, chega a segunda resposta, que envolveu as áreas superiores do cérebro.

Esse trajeto da informação musical no cérebro também envolve a memória, podendo trazer lembranças boas ou ruins à tona. O fato dessa ligação muito intensa da música com as emoções precisa ser levada em conta quando se pensa em utilizar música com outras pessoas. Se alguém demonstrar alguma reação, é preciso prestar atenção. Essa música pode estar provocando alguma forte emoção, trazendo lembranças que às vezes é difícil suportar. Uma música pode estar fortemente ligada a um trauma ou a uma lembrança ruim.

A música envolve diversas áreas cerebrais e, por isso, alterações cerebrais interferem na audição ou execução musical. Há pessoas com grande sensibilidade a determinados sons, sejam eles muito intensos ou muito agudos, provocando um grande incômodo. Nesse momento deve-se investigar se a causa do incômodo não está relacionada à música e diminuir o volume ou trocar de música. Há também alguns distúrbios como a amusia, que é a perda ou diminuição da capacidade musical por uma lesão cerebral, onde a pessoa é incapaz de cantar, tocar um instrumento ou identificar uma música, as alucinações musicais, quando se “ouve” canções, ritmos ou timbres, sem um estímulo externo, e a epilepsia musicogênica, condição rara onde estímulos musicais provocam crises epilépticas.

A música é um dos meios que mais gera prazer e bem estar, ativando as mesmas áreas no cérebro responsáveis pelo prazer de drogas, alimentação e do sexo. Porém, não se pode esquecer da sua forte relação com as emoções e para isso é preciso estar atento à qualquer reação diferente que alguém manifesta ao estar ligado à música.




Luciana Steffen - lucianamt@espacodomquixote.com.br
Musicoterapeuta do Espaço Dom Quixote
Mestranda em Teologia (Gênero na Musicoterapia) - EST



Algumas referências:

WEINBERGER. A música e o cérebro. Scientific american brasil. São Paulo, n. 31, p.77-83, dez. 2004.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1995.
http://saude.abril.com.br/edicoes/0308/bem_estar/conteudo_422145.shtml

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