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Filho na adolescência, e agora?


E agora é mais um daqueles momentos em que você não sabe o que fazer. Como quando soube que estava grávida, quando descobriu que seria pai. Quando o seu filhote tão indefeso foi para a escola, e o pior, ficou sozinho. Resmungou, mas não olhou para trás. Depois de cada momento desses, você respirou fundo e continuou. Afinal, são etapas que todos os pais passam e passarão. Agora você vê seu filho, sua responsabilidade tomando novamente novas formas, desafiando, brigando e pedindo para voar. Aí você se pergunta: e agora? O que está acontecendo com meu filho que acompanhava e concordava com tudo?

Pois bem, ao mesmo tempo em que você se pergunta isso, seu adolescente se olha no espelho e vê nítidas mudanças que não se deixam esconder. Procurando no seu desespero, no seu desencontro, uma maneira de descobrir o que fazer com isso tudo. Pois ele sabe, sem você ter percebido, que já perdeu o seu encanto infantil. Ao mesmo tempo em que família, sociedade, escola e amigos começam a lhe cobrar maturidade: “você não é mais criança”. Um misto de deixar de ser e começar a se tornar toma conta, nenhuma responsabilidade pode ser assumida, assim como nenhuma atitude infantil é aceita. É preciso ter atitudes maduras. Mas que atitudes maduras são essas que se espera de um adolescente de 15 anos? Reformularei a questão: como você foi aos 15 anos? Teve uma adolescência plena e feliz sempre? Teve apoio de seus pais? Pôde questionar sobre as milhares questões que seu corpo pedia resposta? Teve toda a liberdade que queria?

Devemos desmistificar a ideia que nós adultos criamos sobre a adolescência como uma fase plena e feliz, de liberdade total e onde não há preocupações. Claro que há preocupações, vejamos as mudanças físicas, psíquicas e as decisões que guiarão toda a trajetória adulta e por onde criamos nossos parâmetros de vida.

Criam-se ideais de felicidade que naturalmente não são encontrados pelos adolescentes, gerando frustrações por não saber encontrar esta felicidade e este gozo que é obrigatório. O adolescente revolta-se porque quer ser feliz. Enfrenta, pois lhe mandam tomar uma atitude. Junto a tudo isso se deixa de escutar um pedido de atenção: “ou me deixam crescer ou cuidam de mim”.

Aos pais, cabe a tarefa de lembrar sua adolescência, suas dúvidas e medos. Reconhecendo que agora é um daqueles momentos de mudança, de transição. Uma fase como outra qualquer, fantasiada de festa, mas coberta de insegurança.

Ao adulto cabe olhar para si próprio, tendo a capacidade de abrir os olhos, os ouvidos e o coração. Pois são essas ferramentas que os aproximarão daqueles que se sentem rejeitados do resto do mundo.

Deixemos de instruir apenas o que parece óbvio e prático: não use drogas, use camisinha, espere, comporte-se como adulto. E passemos a pensar nas instruções mais fundamentais: os pais estarão sempre ao seu lado, não tenha pressa, descubra aquilo que você goste. E goste.

Demonstre ao adolescente o carinho que não foi embora com a infância, mas que reconhece a necessidade de sair debaixo da asa (aos poucos, já que não é tarefa fácil).

Bons adultos e adolescentes felizes são formados dentro de casa, com o suporte familiar e com tranquilidade para perceber que qualquer fase, problema ou medo pode ser superado.

Devemos lembrar e respeitar o momento que muitas vezes não é totalmente feliz. De fato não estamos sempre felizes. Portanto, abra espaço para o diálogo, para a aproximação, para o não e para a revolta com o mundo. Pois é neste momento que descobrimos e avaliamos o que é bom, ruim, justo e injusto.

Sejamos solidários, abertos. Respire fundo, dê a mão, um abraço. Não tenha medo de dizer não, seja firme. Mas esteja aberto a persuasão. Não feche os olhos, mantenha-se atento a tudo e a todos, pois você ainda é responsável por aquilo que cativas.

Abra o coração, seja flexível, amigo. Leve, busque, acompanhe, saiba onde está. Você, apesar de qualquer dificuldade deve continuar, acreditar, amar. Pois você é acima de qualquer coisa, espelho mais fiel que ele pode ter.

Este não é um manual, um guia e não tenta responder nenhuma questão fielmente. Busca apenas abrir novos pontos de interrogação. Outra forma de pensar a adolescência e o adolescente, pois este é um assunto interminável. Uma maneira de tornar o assunto mais leve e simples.

E agora? E agora só você pode responder essa pergunta.


Caroline Ciceri - carolinepsico@espacodomquixote.com.br
Psicóloga do Espaço Dom Quixote

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