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Crianças bilíngues


As escolas bilingues estão cada vez mais na moda, desde bebês os pais já buscam oferecer aos filhos a convivência com outros idiomas, isso é perceptível em programa como NiHao KaiLan, Dora, a aventureira, GO Diego GO, Word World entre outros, mas você sabe as vantagens e as conseqüências desta nova modalidade de ensino? O site ig delas (www.igdelas.com.br) fez recentemente uma reportagem bastante interessante a respeito da educação bilíngüe, ressaltando os prós e contras deste modelo educacional.


O que pais de crianças bilíngues desde o berço precisam saber?

O desenvolvimento linguísticos destas crianças requer mais atenção. Pais precisam ter paciência durante processo de aprendizagem

É comum que as crianças brasileiras tenham contato com a língua inglesa – além da portuguesa – por meio de propagandas, programas de televisão e filmes desde bem cedo. O contato precoce dos pequenos com outros idiomas, antes mesmo de aprenderem a falar português, torna-se cada vez mais freqüente. É o caso, por exemplo, da filha da administradora Monika Reschke Morganti, de 44 anos. Aos sete anos Ana Carolina cresce falando português e alemão. Além disso, já faz aulas de inglês.

“Eu sou descendente de alemães e aprendi o idioma antes do português, em casa. Por isso, assim que tive a oportunidade matriculei minha filha em uma escola alemã para ver se ela se encaixava no perfil. Ela está se desenvolvendo super bem”, conta Monika. Desde os quatro anos de idade Ana Carolina se comunica em português e alemão, que é a língua oficial dentro de casa, já que a mãe e o pai são fluentes no idioma.

Aos cinco, Ana Carolina – que demonstra aptidão para o aprendizado de novas línguas, de acordo com a mãe - pediu aos pais se poderia aprender inglês. “Fiquei preocupada em ser muita coisa e que ela pudesse confundir os idiomas. Mas Ana Carolina queria e acabei descobrindo que só podia acrescentar, e não prejudicar” afirma a mãe.

Para Norma Wolffowitz Sanchez, que desenvolve pesquisas em educação bilíngue e formação de professores e é coordenadora de inglês da escola de educação bilíngue Cidade Jardim – Play Pen, em São Paulo, a “plasticidade” do cérebro das crianças colabora para que elas tenham facilidade para se tornarem bi ou multilíngues desde o berço: “O ideal é que este aprendizado ocorra desde o nascimento mesmo. O cérebro, quando adulto, é menos plástico e o aprendizado se torna um pouco mais sofrido”, defende.

Segundo a advogada e autora do blog Filhos Bilíngues Claudia Storvik, de 48 anos, é preciso muita determinação por parte dos pais. Casada com um norueguês e morando em Inglaterra há 12 anos – a mesma idade da filha, Camilla -, Claudia afirma que foi inevitável e natural criar a filha num ambiente multilíngue. “Desde que ela nasceu eu falava em português com ela, o meu marido em norueguês e, como moramos em Londres, ela também estava exposta ao inglês”, conta.

Que crianças são como “esponjinhas”, capazes de interagir em dois ou mais idiomas desde pequenas, não há dúvidas. De acordo com Helena Miascovsky, coordenadora de inglês da escola bilíngue Stance Dual, em São Paulo, a exposição ao segundo ou terceiro idioma desde cedo possibilita a existência de um maior número de sinapses cerebrais e a resposta à educação costuma ser rápida. Além disso, uma pesquisa canadense revelou que estes estímulos podem começar até mesmo quando os pequenos ainda estão na barriga da mãe. Mas o que mais os pais precisam saber para obterem sucesso neste caminho?

De acordo com a professora titular do Departamento de Clínica Fonoaudiológica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coordenadora do grupo de pesquisa Linguagem e Subjetividade (http://www.pucsp.br/linguagemesubjetividade/), Regina Maria Freire, se a mãe fala com o filho em uma língua e o pai em outra – como na casa de Claudia –, é muito comum que, ao começar a falar, a criança misture as duas línguas até mesmo em uma mesma palavra. A filha de Claudia, por exemplo, passou por esta fase no início da comunicação por meio da fala. “Isto quer dizer apenas que a criança está sob efeito dos dizeres dos pais, mas não tem nenhuma conotação negativa”, diz Freire.

Ainda, segundo Helena Miascovsky, essa confusão de idiomas não significa que a criança esteja misturando as coisas, mas usando um conceito que ainda não foi construído no idioma que está sendo falado naquela hora. Na Stance Dual os diferentes conteúdos de sala de aula são inseridos às vezes com a língua portuguesa, às vezes com a língua inglesa. Com isso, pode acontecer de uma criança saber uma palavra em inglês, mas ainda não tê-la aprendido em português, por isso a possibilidade de variação no começo do aprendizado. “E o conhecimento é transferível de um idioma para o outro, o aprendizado vai acontecendo de maneira natural”, afirma a especialista.

Aprender mais de um idioma desde cedo não significa, como muitos pais receiam, que a criança vai demorar mais tempo para começar a falar. “Existe um tempo médio para o início da fala, e as crianças bi ou multilíngues costumam estar dentro desta média”, diz Helena. O que pode acontecer, no entanto, é que ela aprenda uma língua com mais facilidade do que a outra.

Segundo a pesquisadora Norma Wolffowitz Sanchez, em uma casa onde ocorre a educação bilíngue, a criança irá escolher uma língua principal para falar inicialmente: a que tiver mais contato, claro – como a língua que a mãe fala, por exemplo. “Mas isso pode se dar no início do processo de fala, por um período curto: depois ela começa a perceber os dois códigos falantes”, ressalta. Se após os dois anos a criança ainda apenas balbuciar ou gesticular, sem utilizar a fala para a comunicação, recomenda-se que os pais procurem um fonoaudiólogo especialista no assunto.

É importante ressaltar que assim como alguns adultos possuem maior facilidade para a comunicação e o aprendizado de idiomas, com as crianças isso também acontece. Segundo Monika, a filha Ana Carolina está tendo facilidade e tirando de letra o ensino: “Mesmo agora, no período de alfabetização, ela está indo muito bem. Às vezes troca o ‘sch’ do alemão pelo ‘x’ do português, mas os professores dela me informaram que isso é algo bem comum de acontecer”. Mas claro, um aluno que naturalmente não tenha tanta habilidade linguística pode encontrar maiores dificuldades no mesmo percurso. Isso também pode ocorrer com crianças que falem apenas um idioma.

Os pais que falam em outros idiomas dentro de casa desde o nascimento do filho precisam ter paciência. “Não pode existir uma cobrança para que a criança aprenda duas línguas ao mesmo tempo. Deve acontecer naturalmente, com o tempo”, diz Norma. Porém, de acordo com Helena Miascovsky, crianças que começam a falar outro idioma fora de casa – o inglês na escola, por exemplo – podem resistir a falar com os pais na nova língua, mesmo que eles sejam fluentes.

O principal benefício, claro, é o já imaginado: saber mais de um idioma em um mundo globalizado é extremamente valorizado. Porém, Regina Maria Freire aponta outro acréscimo: “é possível desenvolver ainda mais o raciocínio, dado que o simbólico é articulado pela lógica, e não pela memória”. Mais ainda, ser multilíngue também pode trazer à tona o conhecimento cultural da criança. “Além de perceber que há mais de um código falante no mundo, a criança também passa a perceber facilmente que há outras culturas com valores diferentes ou semelhantes aos de sua família, e seu repertório para a compreensão do mundo passa a ser maior”, conta Norma.


Clarissa Paz de Menezes - clarissapp@espacodomquixote.com.br
Psicopedagoga do Espaço Dom Quixote

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