RSS

Bullying - brincadeiras que machucam a alma


Todos os dias, alunos no mundo inteiro sofrem com um tipo de violência que vem mascarada na forma de brincadeira: risadinhas, empurrões, fofocas, apelidos maldosos. Todo mundo já testemunhou uma dessas “brincadeirinhas” ou foi vítima delas - bullying (“bully”, quer dizer brigão, tirano). São atitudes agressivas intencionais e repetitivas com o desejo de maltratar uma pessoa e colocá-la sob tensão.

No entanto, diante do fato ocorrido na semana passada numa escola pública do Rio de Janeiro, os nossos olhos se voltaram para o assunto de maneira mais particular. Todas as crianças que sofrem bullying se tornam agressivas assim? Foi por que o menino sofria bullying na escola que ele acabou cometendo todos esses crimes? Não, com certeza o bullying por si só não transforma um sujeito “normal” numa pessoa esquizofrênica. Mas o contrário é verdadeiro, muitos alunos esquizóides podem estar sofrendo bullying nas escolas. Crianças com uma pré-disposição para desenvolver uma doença psíquica podem estar sendo vítima de bullying diariamente e esse pode ser mais um agravante para desenvolver a doença na adolescência. Outros tantos que sofrem bullying podem nunca se tornarem esquizofrênicos ou psicopatas, mas podem passar a desenvolver verdadeira fobia à escola ou, em menor grau, passar a ver na escola um local de muito desprazer e tristeza.

Uma criança que sofre bullying na escola tenderá a sentimentos negativos com possibilidade de tornar-se um adulto com problemas de relacionamento. Os efeitos do bullying incluem ansiedade, resistência ou mal-estar na hora de ir à escola, baixo rendimento escolar, opiniões depreciativas sobre si, roupas ou cadernos danificados, isolamento, pesadelos, pânico, agressividade, queixas orgânicas e outros.

É uma questão social e educacional, interfere na autoestima, e qualquer um com características específicas (timidez, insegurança, diferenças físicas, culturais ou raciais) torna-se alvo facilmente. Não são poucas as vítimas do bullying que, por medo ou vergonha, sofrem em silêncio. Além de haver alguns casos com desfechos trágicos, esse tipo de prática também está preocupando por atingir faixas etárias cada vez mais baixas, como crianças dos primeiros anos da escolarização. Trata-se de uma forma de ataque perversa que extrapola os muros da escola e pode deixar seqüelas para a vida adulta.

Todos podem estar pensando: “No meu tempo isso já existia e não era falado sobre o assunto, era “normal”, usual... e nada mais grave ocorria. Podemos pensar que há tempos atrás muitas outras situações não existiam e hoje o bullying ou as “brincadeiras que machucam a alma”, como gosto de chamar, se unem a tantos outros agravantes, como a desestruturação familiar, a violência social, as drogas, o estímulo da mídia... o que agrava – e muito – a situação! Além do mais, não sabemos que fim levou aquele colega que mal respondia a chamada na escola, ou que vivia levando ovos na cabeça no final da aula... Será que ele está mesmo bem hoje?

A ideia não é fazer “tempestade em um copo d’água”, nem tornar as pequenas brincadeiras cotidianas um grande problema. A ideia é alertar, é ficarmos atentos para o limite entre a brincadeira e a humilhação. A ideia é olhar com outros olhos para a criança e o adolescente quietinhos do fundo da sala que, muitas vezes, nem chegam nas salas da psicologia porque não atrapalham a aula.

Para quem é vítima de algum desses tipos de humilhação, a saída é “se abrir”, ou seja, procurar ajuda, começando pelos próprios pais. E quem tem um filho ou aluno passando por esse problema precisa mostrar-se disponível para ouvi-lo. Nunca se deve aconselhá-lo a revidar a agressão; mas esclarecer que ele não é culpado pelo que está acontecendo, pois é uma questão de respeito às diferenças individuais que se aprende em família e na sociedade. Trabalhar com as turmas o respeito ao outro, a necessidade de compreender a limitação do outro e a importância do apoio ao colega que mais precisa, é uma grande saída. Afinal, sabemos que, no fundo, nossas crianças e adolescentes podem ter um coração gigante quando estimulados para tal envolvimento!

Fabíola Scherer Cortezia - fabiola@espacodomquixote.com.br

Psicóloga do Espaço Dom Quixote – Especialista em Infância e Adolescência

0 comentários: