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Terapia Ocupacional e Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano


De acordo com a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano de Urie Bronfenbrenner (1994), as redes sociais que se formam a partir das relações entre o ambiente e o comportamento, enfatizam a influência do ambiente ecológico no desenvolvimento humano e na família. Ainda segundo este autor não apenas o ambiente imediato influenciará no comportamento do indivíduo, mas a interconexão entre este ambiente (microssistema) e outros mais amplos (mesossistema, exossistema, macrossistema) o afetará. Há também a influência do indivíduo no ambiente, caracterizando relações de reciprocidade. A participação da criança em mais de um ambiente a introduz em um mesossistema, que é definido como um conjunto de microssistemas. A transição do bebê de um para vários microssistemas abrange o conhecimento e participação em diversos ambientes (a família - nuclear e extensa -, a escolinha, a vizinhança, etc), consolidando diferentes relações e exercitando papéis específicos dentro de cada contexto. Este processo de socialização promove seu desenvolvimento. Esta passagem, chamada por Bronfenbrenner de transição ecológica, é mais efetiva e saudável na medida em que o bebê se sente seguro e tem a participação de suas relações significativas neste processo.

Entretanto, o ambiente hospitalar ainda é visto como um espaço inóspito e com intensa exposição a estímulos nociceptivos como o estresse e a dor. Não se tratando de um ambiente ecológico e sensibilizado. Por isso é preciso compreender a dinâmica própria do bebê e avaliar seu desenvolvimento neuropsicomotor, além de estabelecer/restabelecer a rede social a sua volta (pais, família, médicos, enfermeiros) que influenciará no seu desenvolvimento através experiências positivas e negativas.

Dentro deste contexto, a Terapia Ocupacional aliada a psicomotricidade busca avaliar a rede social que se forma em torno do recém nascido pré–termo, a fim de compreender como o ambiente externo poderá influenciar no seu desenvolvimento dentro do ambiente hospitalar.

A Terapia Ocupacional utiliza a Integração Sensorial e procedimentos avaliativos para identificar o grau de estresse do recém nascido e de seu desenvolvimento para então proporcionar um programa de reabilitação e prevenção no ambiente hospitalar. Além disso, ajuda na elaboração de conteúdos emocionais da criança e da sua família, além de proporcionar maior integridade de funções no leito, avaliar e estimular sensoperceptocognitivamente o bebê, possibilitando maior segurança e facilitando o processo de alta hospitalar.

Entende-se por Integração Sensorial o processo neurológico que organiza as sensações do corpo e do ambiente e torna possível usar o corpo efetivamente dentro do ambiente. Como recurso terapêutico visa desenvolver a capacidade de perceber, aprender e organizar as sensações recebidas do seu corpo e responder de maneira adaptativa, melhorando assim as demandas motoras necessárias para o recém-nascido.

Enquanto a Escala de Avaliação Comportamental Neonatal desenvolvida por Brazelton em 1973 e revisada em 1984, tem como propósito original descrever o sistema autônomo, a atividade motora, os estados de consciência e a atenção social, vistos como integrativos e interativos no bebê a termo e saudável. (Straatmann, 2006, p.24).

Com isso, é possível reverter situações de risco, como o afastamento dos pais e o estresse do bebê quanto à manipulação constante. Nesse momento se faz importante à intervenção psicomotora precoce possibilitando restabelecer o vínculo entre pais-bebê fortalecendo a relação interpessoal, através do toque tranquilizador, principalmente da mãe, já que é através dela que o bebê se percebe. Assim como o toque sensibilizado dos profissionais da saúde nos cuidados médicos, através de momentos de confiança, prazer, voz materno-paterna, sossego, adequações ambientais na Unidade de Terapia Intensiva (UTIN) e humanização da equipe multidisciplinar. Assim o mesossistema influenciará positivamente nos ganhos do desenvolvimento infantil.

Através dessa teoria é possível observar a importância da relação pais-bebê, principalmente a relação mãe-filho, no desenvolvimento do recém nascido. É possível ver também o quanto o atendimento psicomotor precoce desenvolvido dentro dos preceitos terapêuticos ocupacionais psicomotrizes vem a facilitar a sociabilização e ganhos efetivos para o desenvolvimento normal do recém nascido e para todos aqueles que estão a sua volta. Dentro da perspectiva de que o ambiente influencia o meio é possível compreender a relação entre bebê – pais – profissionais da saúde. Sendo assim, é possível observar que o desenvolvimento infantil ocorre conforme a criança se envolve ativamente com o ambiente físico e social, assim como ela o compreende e como o interpreta.

A Terapia Ocupacional e principalmente a Psicomotricidade tem muito a fazer neste ambiente ficando clara, a importância do profissional que alia estas duas técnicas juntamente com os preceitos ecológicos tende a facilitar o processo de internação, para pais, bebês e familiares. Além favorecer o ambiente saudável para os profissionais. Só assim o bebê de alto risco consegue vencer esta condição e se tornar um bebê saudável dentro do desenvolvimento normal.


Priscila Straatmann Mórel - priscilato@espacodomquixote.com.br
Terapeuta Ocupacional e Psicomotricista do Espaço Dom Quixote

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