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Supervalorização do Corpo

Atualmente os homens têm experimentado a mesma pressão que as mulheres no sentido de adquirir a forma física perfeita. Se isso não bastasse, também é cada vez mais cedo que tal preocupação se inicia.

Cresce diariamente o número de adolescentes do sexo masculino buscando alternativas para satisfazer o padrão determinado para os músculos, a pele e os cabelos, na maioria das vezes ultrapassando o interesse benéfico para tornar-se uma aflição constante.

Até parece estranho quem consegue escapar dessa armadilha. E se consegue, não demora a ser cobrado por alguém, afinal esse é o modelo esperado de comportamento exigido pela sociedade consumista, competitiva e fanática que vivemos. Cultura essa que impõe o padrão estético desde os brinquedos, nada ingênuos, que são fabricados para nossas crianças.

Aliás, estudos sobre a popular boneca Barbie confirmam o que todo mundo já sabe. A boneca foi ficando cada vez mais magrinha no decorrer dos anos. Qualquer um pode ver que se a boneca tivesse a altura de uma mulher de verdade, hoje ela teria uma cintura de apenas 40 centímetros. À medida que a Barbie foi ficando cada vez mais fina, os bonecos e os heróis masculinos também foram ficando muito mais musculosos.

Assim são enviadas as mensagens para as crianças desde muito cedo sobre quais são as regras de beleza impostas no mundo adulto. E o pior é que esse corpo ideal, de magreza para as mulheres e músculo para os homens, é muito complicado para a pessoa comum atingir.

Mesmo para as pessoas que podem investir e dedicar a vida exclusivamente para se tornarem mais belas, mais jovens e mais fortes, a satisfação não é permanente. Assim como não é fácil nem para os atletas e bailarinos, que também se queixam sobre como é difícil manter por longos períodos tais obrigações estéticas, torna-se compreensível, portanto, que milhões de adolescentes se sintam infelizes com o que vêem no espelho.

O que eles precisam entender, principalmente no caso de ganho de massa muscular, é respeitar a sua origem biológica, que todo corpo tem um limite genético, um potencial de crescimento próprio, quando o desenvolvimento muscular atinge o máximo possível. Para ultrapassar a natureza, acelerar o seu crescimento, só de forma artificial, com anabolizantes, o que muitos modelos de perfeição fazem e não admitem. Ninguém quer reconhecer que usa uma droga que pode causar distúrbios psiquiátricos, infertilidade, impotência sexual, sobrecarga dos rins, câncer de fígado e de próstata, ainda que só se perceba a longo prazo.

De fato, as pessoas que recorrem aos perigos da beleza artificial, que buscam a imagem ideal como único objetivo de vida, se tornam reféns de todo esse contexto de cobrança contínua, e os seus prejuízos virão mais cedo ou mais tarde, dado que o ideal de perfeição é inatingível.

Justamente nesse ponto que a indústria da vaidade aposta. Ela é a que mais lucra e comemora fazendo as pessoas se sentirem inseguras quanto aos seus corpos. Por isso é imprescindível se conversar sobre o assunto com as crianças e os adolescentes. Ninguém discorda que a autoestima é importante, a pessoa se sentir bonita é bom, mas nada que a faça sofrer demais, obrigando-a a arriscar a saúde para ser saudável. Até porque, na vida real há muito mais que quantidade de músculos ou tamanho de cintura para se admirar nas pessoas.

Andréa de Espíndola

Psicóloga e Psicomotricista do Espaço Dom Quixote

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